Trombose e embolia: riscos da imperícia e do uso inadequado de substância para aumento dos glúteos
Após o caso da bancária Lilian Calixto, de 46 anos, que morreu depois de realizar um preenchimento nos glúteos com polimetilmetacrilato (PMMA), a polícia do Rio investiga outros dois casos semelhantes. Ao serem socorridas, as vítimas apresentavam falta de ar, o que sugere embolia pulmonar. A suspeita é de que o produto aplicado para dar volume ao corpo tenha sido injetado dentro de um vaso sanguíneo, se deslocado até uma artéria pulmonar e provocado a parada cardiorrespiratória. Segundo médicos, esse é um dos maiores riscos envolvidos no procedimento.
— O PMMA não é um produto que costuma ser usado por cirurgiões plásticos. É liberado pela Anvisa para uso em pequena quantidade na face em pacientes com HIV e perda de gordura. A substância não é absorvida pelo organismo e não há estudos que comprovem a sua segurança a longo prazo — afirma Sérgio Bocardo, membro titular da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP) e chefe do setor de cirurgia plástica do Hospital Federal de Ipanema.
Estudos que avaliaram a segurança do PMMA foram realizados com o uso de 22 ml.
Material usado para procedimentos estéticos apreendidos na cobertura do Dr. Bumbum, na Barra Foto: Fabiano Rocha / 17.07.2018
De acordo com o vice-presidente da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), Sérgio Palma, preenchedores permanentes, como o PMMA, estão mais ligados a complicações:
— As imediatas, mais graves e temidas estão relacionadas com os acidentes vasculares por embolização ou compressão arterial e venosa.
A SBD recomenda a utilização do ácido hialurônico como padrão ouro de preenchedor estético facial. A substância custa dez vezes mais que o PMMA.
— O ácido hialurônico pode ser utilizado para depressões glúteas e não para aumento de volume. Se a intenção for essa, o indicado é a colocação de prótese de silicone por um cirurgião plástico — diz Palma.
A realização de procedimentos estéticos, como lipoaspirações e suas variadas nomenclaturas (lipolight, lipoescultura) em local não apropriado, como salões de beleza, é outro grande risco.
— No lugar de sedar o paciente e fazer o procedimento com toda a segurança num centro cirúrgico, o profissional terá que lançar mão de anestésico local. Existe uma dose máxima que pode ser usada, sob risco de intoxicação, podendo causar convulsão, arritmias e parada cardíaca. Para uma lipo, sabemos do uso de anestésico local em doses altas, até cinco vezes mais que o máximo recomendado. É um grande risco — alerta Bocardo.
Bocardo diz que o primeiro passo antes de se submeter a uma cirurgia é se certificar que o profissional tem registro ativo no Conselho Regional de Medicina do estado, no caso, o Cremerj. Isso é possível saber pelo site da entidade (www.cremerj.org.br). Depois, verificar se o médico tem capacitação e é especialista pela SBCP, acessando o site www2.cirurgiaplastica.org.br. É bom lembrar que a Associação Médica Brasileira e o Conselho Federal de Medicina não reconhecem medicina estética como uma especialidade médica.