Tratamento estético com não médico coloca integridade de paciente em risco, alerta SBD
A Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD) acende um alerta: está cada vez mais frequente a realização de procedimentos estéticos invasivos por profissionais não habilitados, aumentando os riscos de erros que podem ser irreversíveis. Queimaduras e deformações no rosto e no corpo são exemplos de efeitos adversos enfrentados por pacientes que foram atendidos inicialmente por pessoas sem formação e depois recorrem a dermatologistas na espera de reverter os quadros.
Assim, profissionais não habilitados, clínicas clandestinas e desinformação formam o caldo ideal que traz dores de cabeça para quem quer ser bonito a qualquer custo. “A cosmiatria deve ser realizada por médico especializado, como o dermatologista, o qual está habilitado para isso e preparado para tratar também eventuais complicações que possam ocorrer. Aquele que pretende fazer um tratamento estético não deve se colocar sob os cuidados de não médicos ou mesmo de médicos que não possuem a formação adequada”, explica o presidente da SBD, Sérgio Palma.
Integridade – Segundo ele, o que está em jogo é a integridade física e emocional dos pacientes. O tema foi abordado durante o Seminário Cosmiatria e Laser: beleza à luz da medicina, organizado pela Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), em parceria com o jornal O Globo. Durante os debates, uma situação chamou a atenção: a oferta de serviços pela internet tem ajudado a aumentar o número de problemas decorrentes de erros na realização de procedimentos.
“Muitas pessoas não buscam informações prévias sobre as pessoas que se anunciam como especialistas. Acabam caindo em armadilhas que consomem dinheiro, saúde e muitas vezes deixam sequelas para sempre”, ressaltou Sergio Palma. Um exemplo foi o caso da jornalista Priscilla Aguiar, que realizou uma rinomodelação com ácido hialurônico.
O procedimento realizado por uma biomédica, em Olinda (PE), evoluiu para uma necrose de pele, sendo necessária uma série de tratamentos para recuperação dos danos, pois, apesar de aparente simplicidade, preenchimentos podem resultar em lesões de difícil reparação e deformidades. “Eu não pesquisei sobre o profissional e o resultado foi uma internação no hospital com uma infecção no nariz que poderia ter me deixado cega”, conta.
Diagnóstico – O seminário, que foi palco dessa troca de visões e experiências, buscou alertar participantes e leitores do jornal sobre os riscos de realizar procedimentos estéticos com profissionais não habilitados. “A dermatologia engloba as doenças e a beleza da pele. É preciso lembrar que toda consulta médica começa com um diagnóstico e, posteriormente, o tratamento, caso haja algum tipo de problema. A saúde da pele depende do trabalho de vários profissionais, porém somente o médico pode fazer qualquer tipo de diagnóstico nosológico”, frisou Alessandra Romiti, coordenadora do Departamento de Cosmiatria, que também participou do encontro.
Por sua vez, a presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), Carmita Abdo, lembrou, inclusive, que o dermatologista ajudará a entender a real necessidade dos procedimentos a partir da avaliação do paciente. “Muitas vezes, uma lesão de pele tem origem interna e isso é o dermatologista quem identificará. Outras vezes, o procedimento que a pessoa deseja fazer é descabido e é o médico dermatologista quem explicará o melhor caminho a seguir. É preciso ter cuidado com os procedimentos estéticos, pois, por menos invasivo que pareça, poderá trazer consequências sérias e irreversíveis”, disse.
Ato Médico – Segundo a SBD, a Lei do Ato Médico reserva aos profissionais da medicina a realização de procedimentos chamados de estéticos ou cosmiátricos considerados invasivos. Isso vale para serviços como aplicações de toxina botulínica e outras substâncias, criolipólise e preenchimentos. O entendimento legal se baseia na compreensão de que esses atendimentos exigem uma compreensão maior do organismo humano o que garante a segurança do paciente.
“Cabe ao dermatologista definir as quantidades das substâncias a serem aplicadas, considerando aspectos como a harmonia do rosto ou do corpo e possíveis reações adversas que podem decorrer do seu uso. Considerando-se que mesmo se todos os cálculos forem corretos, a paciente ainda pode sofrer uma reação (mais ou menos grave) e o dermatologista está preparado para uma intervenção imediata de emergência para garantir a vida e a integridade de quem ele trata. A ação de não-médicos deve ser combatida pelas autoridades, pois traz insegurança a pacientes e seus familiares”, conclui o Sérgio Palma.
Participaram do encontro os especialistas da SBD, Sérgio Palma (presidente), Alessandra Romiti (coordenadora do Departamento de Cosmiatria), Meire Parada (médica dermatologista da SBD), Patrícia Ormiga (assessora do Departamento de Cosmiatria) e Bruna Duque Estrada (assessora do Departamento de Cabelos e Unhas). Também estiveram presentes Carmita Abdo, presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP); José Fernando Maia Vinagre, corregedor do Conselho Federal de Medicina (CFM); e Simone Braga, gerente da Coordenação de Vigilância em Saúde do Município do Rio; além dos artistas Luiza Brunet; Alexandra Richter, Paulo Ricardo e Cris Vianna.
Fotos: Eduardo Uzal/G.Lab