É recomendável o uso do WhatsApp numa consulta médica por telemedicina? Quais são os cuidados na hora de mostrar uma lesão de pele via webcam? No atendimento à distância, o paciente tem direito a retorno? Há limites para o atendimento mediado via online? Essas são algumas das perguntas que encontram respostas em um guia lançado, nesta semana, pela Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD). O documento de 84 páginas chega para ajudar os profissionais e a população no manejo dessa nova abordagem.
O Manual de boas práticas em teledermatologia também oferece orientações importantes para a condução dos encontros. Na avaliação da SBD, esse tipo de consulta deve acontecer, idealmente, após um primeiro encontro presencial entre médico e paciente, que, juntos, definem sobre a possibilidade de dar seguimento ao atendimento via online. No texto, também são destacadas a importância da identificação do paciente (certificar se é mesmo a pessoa que se apresenta) e de se registrar tudo em prontuário, inclusive a autorização prévia do paciente para o exercício da teledermatologia, com referências à plataforma utilizada e ao horário (com início e término) de cada sessão.
Outro tema abordado são os pacientes vulneráveis. Quanto a isto, recomenda-se que idosos e crianças, em especial menores de 12 anos, contem com um acompanhante nas sessões, como nas consultas presenciais. O direito do paciente ao retorno de consulta também é tratado pelo Manual, que sugere que o tema seja acordado entre as partes, respeitando-se as normas e leis vigentes (Resolução CFM nº 1.958/2010).
Critérios – No entendimento da SBD, para que a telemedicina no diagnóstico e tratamento de doenças dermatológicas ocorra de forma segura e eficaz devem ser observados, por médicos e pacientes, alguns critérios técnicos e éticos, como o uso de plataformas adequadas para esta finalidade, o preenchimento de condições mínimas na hora da consulta ou exame (iluminação, áudio, imagem, etc) e a garantia de sigilo no trato de dados e informações.
Os esclarecimentos sobre esses tópicos, e outros, aparecem ao longo do Manual de boas práticas em teledermatologia, que aborda – de forma clara e objetiva – aspectos que fazem a diferença durante consultas e exames à distância. Autorizada no Brasil desde o início da pandemia, sem a necessidade de médicos nas duas pontas, a telemedicina tem crescido significativamente nos últimos meses, o que exige dos profissionais e da população preparo para uma nova realidade.
“Acreditamos que a prática médica será afetada definitivamente pela telemedicina. É um contexto que deve perdurar, mesmo após o fim da pandemia. Por isso, cabe aos médicos dermatologistas estarem preparados para oferecer aos pacientes os melhores resultados possíveis”, afirma o presidente da SBD, Mauro Enokihara. Ele conta que, além do Manual, a Gestão 2021-2022 já organizou lives e cursos sobre o tema, com boa adesão por parte dos especialistas.
Limites e cuidados – Para a eficiência da teledermatologia, o Manual recomenda que para o envio de imagens sejam seguidas dicas práticas que cobrem do registro das lesões (com orientações sobre iluminação e ângulo para tirar a fotografia) até os cuidados durante a transmissão e as configurações recomendadas para os equipamentos. Sobre esse assunto, o documento alerta para as fragilidades da teledermatologia no mapeamento de nevos, na visualização de áreas com pelos e de lesões pigmentadas e em mucosas.
Além das orientações gerais, o Manual apresenta um breve histórico sobre o emprego da telemedicina pela dermatologia. De acordo com os registros, os Estados Unidos sediaram as primeiras experiências de atendimento dessa especialidade à distância, em 1967. No Brasil, a inovação chegou quase três décadas depois, em 1995, em discussões realizadas no âmbito da Regional São Paulo da SBD. Em 2002, com o envolvimento da Universidade de São Paulo (USP) foi realizada uma campanha multicêntrica, baseada na troca de dados à distância.
No Manual da SBD, o leitor encontrará ainda a definição dos principais termos adotados pela área e as referências legais e éticas para realização dos atendimentos. Também são esclarecidas, objetivamente, dúvidas de médicos e pacientes, como, por exemplo, se uma consulta dermatológica por ser feita com o suporte do Whatsapp ou se um profissional que oferece atendimento à distância precisa contar com um serviço de suporte técnico à disposição permanente.
Documento – “Todo conteúdo foi baseado nas principais a legislações atualmente em vigor no Brasil e no mundo, bem como na expertise de alguns dos maiores especialistas no tema no País. Esse Manual expressa a preocupação da SBD em fornecer as melhores referências técnicas e éticas com vistas à proteção e segurança dos médicos e dos pacientes”, ressaltou Daniel Holthausen Nunes, coordenador do Departamento de Teledermatologia da SBD, que participou da elaboração do documento.
Além dele, contribuíram com a iniciativa os médicos Fabiane Noronha Bergonse, mestre pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP); Marcelo Caldeira Guimarães Wieser, ex-presidente da SBD-RESP; e Omar Lupi, ex-presidente da SBD. Também participaram as assessoras do Departamento: Aline Lissa Okita e Karen Scherer Bastos. A revisão ficou a cargo de Chao Lung Wen, chefe da disciplina de Telemedicina do Departamento de Patologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP).