A Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD) compôs o grupo de entidades que participou da Reunião de Escopo do Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas (PCDT) de hanseníase, realizada por teleconferência, pelo Departamento de Doenças de Condições Crônicas e Infecções Sexualmente Transmissíveis, da Secretaria de Vigilância em Saúde (DCCI/SVS) do Ministério da Saúde. A iniciativa teve o objetivo de produzir o primeiro PCDT para hanseníase no Brasil, documento ancorado em evidências científicas. A entidade foi representada por Sandra Durães, coordenadora do Departamento de Hanseníase.
Com o PCDT, se pretende oferecer apoio a médicos, profissionais e gestores de saúde na tomada de decisões relacionadas ao tema, especialmente diante de casos que tragam incerteza científica nos campos da eficácia, segurança, custo-efetividade e aplicabilidade do tratamento. Assim, a rede integrante do Sistema Único de Saúde (SUS) se tornaria ainda mais eficiente e capaz de oferecer maior qualidade no cuidado integral às pessoas com hanseníase.
“A constatação de que nem sempre as recomendações do Ministério da Saúde estão sendo seguidas e esquemas terapêuticos não recomendados estão sendo utilizados com risco de tratamento insuficiente e/ou produção de resistência medicamentosa, torna a produção deste PCDT importante para fundamentar cientificamente a adoção dos esquemas terapêuticos comprovadamente mais eficazes e suficientes”, explica Sandra Durães.
O presidente da SBD, Sergio Palma, destaca que a colaboração nas ações de controle da hanseníase é uma prioridade para a entidade, em especial na Gestão 2019-2020, o que se reflete na inclusão da doença nos temas de educação continuada nos Anais Brasileiros de Dermatologia e congressos, na realização de capacitações em hanseníase em todo país e na participação ativa nas campanhas do Janeiro Roxo. “Além disso, dermatologistas da SBD têm histórico de produção científica de excelência na área. Desta forma, podemos agregar uma expertise diferenciada à equipe que discutirá o PCDT”, afirma.
Extensão e abrangência – Durante a reunião, realizada em 9 de junho (terça-feira), foram definidos os aspectos a serem incluídos no protocolo, que servirão para a estruturação das perguntas clínicas ou questões de pesquisa que vão orientar a pesquisa na literatura científica. Também foi avaliada a extensão do PCDT e abrangência das informações a serem agregadas ao documento final.
Na percepção da SBD, o enfrentamento da hanseníase deve ser tratado como prioridade pelo Ministério da Saúde. Nesse sentido, lembra Egon Daxbacher, diretor financeiro da entidade, estão entre as principais estratégias de ação: a detecção precoce e o tratamento imediato de todos os casos e o exame de contatos, com o intuito de prevenir as incapacidades físicas e a interrupção da cadeia de transmissão.
“Os Protocolos Clínicos e Diretrizes Terapêuticas (PCDT) são documentos oficiais do SUS, elaborados pela Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS (CONITEC). Eles têm o objetivo de estabelecer claramente os critérios de diagnóstico de cada doença, o algoritmo de tratamento com as respectivas doses adequadas e os mecanismos para o monitoramento clínico em relação à efetividade do tratamento e a supervisão de possíveis efeitos adversos”, explicou.
Além da SBD, participaram da reunião dirigentes de diversos setores do Ministério da Saúde; e representantes do Movimento de Reintegração das Pessoas Atingidas pela Hanseníase (Morhan); Academia Brasileira de Neurologia (ABN); Sociedade Brasileira de Hansenologia (SBH); Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI); e Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade (SBMFC).
Vice-líder – De acordo com Sandra Durães, com a implementação mundial da poliquimioterapia (PQT), por incentivo da Organização Mundial da Saúde (OMS), na década de 1980, a carga global da hanseníase diminuiu. Ainda assim, diz, a taxa de registro de novos casos tem permanecido quase estática na última década.
Em ordem decrescente, Índia, Brasil e Indonésia contribuem com a maioria desses novos casos. No mundo, foram reportados à OMS, um total de 208.619 casos novos da doença, em 2018. Desses 28.660 (92,6% do total das Américas) foram notificados no Brasil.
Do total de 28.660 casos novos diagnosticados no país, 1.705 (5,9%) ocorreram em menores de 15 anos. Dentre os 24.780 (86,5) avaliados no diagnóstico, 2.109 (8,5%) foram classificados como grau de incapacidade 2 (deficiências visíveis causadas pela hanseníase). “Diante desse cenário, o Brasil é classificado como um país de alta carga para a doença”, comenta a especialista da SBD.