Em 10 anos (entre 2013 e 2022), o Sistema Único de Saúde (SUS) fez o diagnóstico de 278.748 casos de câncer de pele no País. A população com mais de 50 anos foi a mais atingida por essa doença, que está sendo alvo de uma campanha de conscientização organizada pela Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD). O Dezembro Laranja 2022, que teve início este mês e pretende fazer inúmeros alertas ao longo dos meses do verão, de agora até 2023, tem como foco orientar, de forma especial, também os trabalhadores que se expõem ao sol de modo contínuo ao longo dos anos.
De acordo com dados do Ministério da Saúde, no período analisado pela entidade médica, as faixas etárias com maior volume de casos são as seguintes: acima de 80 anos (48.345 casos), de 65 a 69 anos (37.195) e de 70 a 74 anos (37.076). Em contrapartida, os grupos com menos casos registrados são os que vão de 25 a 29 anos (2.869 casos), de zero a 19 anos (2.750) e de 20 a 24 anos (1.938).
A SBD acredita que os dados oficiais estejam subnotificados. Isso porque o Painel Oncologia Brasil, fonte das informações sobre diagnóstico, levou alguns anos para se impor como instrumento de gestão. Criado a partir da Lei 12.732/12, que estabelece prazos máximos para o início do tratamento de pacientes diagnosticados com câncer, o Painel só passou a implementar de forma efetiva o registro do diagnóstico de câncer de pele a partir de 2018. Antes disso, as informações não eram colhidas com o mesmo critério.
“A falta de informações, que impacta no desenvolvimento de políticas públicas sobre o tema, persiste. Apesar da evolução da metodologia para alimentar o Painel Oncologia, sob responsabilidade do Ministério da Saúde, ainda há inúmeros municípios que carecem de acesso a serviços especializados, retardando e dificultando o diagnóstico da doença e, consequentemente, aos dados epidemiológicos”, raciocina o presidente da SBD, Mauro Enokihara.
Ao avaliar os números registrados pela plataforma, a SBD constatou que entre 2013 e 2017 o número de novos diagnósticos de câncer de pele foi de aproximadamente 4 mil casos a cada ano. Com o aperfeiçoamento da ferramenta e dos fluxos de informações, esse número saltou significativamente. Entre 2018 e setembro de 2022, o total de diagnósticos de câncer de pele registrados chegou a 257.756 casos, ou seja, cerca de 52 mil casos ao ano.
Internações – Outro indicador analisado pela SBD foi o volume de internações hospitalares na rede pública para tratamento de câncer de pele. Ao longo de dez anos, houve um total de 467.621 registros desse tipo de atendimento estabelecimentos hospitalares do SUS. Em 2022 (de janeiro a setembro) foram apuradas 43.933 internações no País. Apesar desse número não representar o ano integralmente (apenas até setembro), o dado já é maior do que o registrado de janeiro a dezembro nos anos de 2012 (29.514); 2013 (32.505); 2014 (35.163); 2015 (38.734); 2016 (41.796); e 2020 (43.455).
No período analisado (2013 a 2022), os cinco estados que apresentaram maior número de internações decorrentes de câncer de pele foram, respectivamente: São Paulo (119.503 casos), Paraná (71.515), Rio Grande do Sul (48.463), Minas Gerais (40.753) e Santa Catarina (31.126). Do ponto de vista regional, os dados absolutos confirmam a maior prevalência desse problema de saúde no Sudeste (188.442 registros) e Sul (151.104). Na sequência, surgem o Nordeste (83.431), Centro-Oeste (35.889) e Norte (8.755).
Campanha – A divulgação do levantamento feito pela SBD ocorre pouco após o início do Dezembro Laranja, que neste ano tem como mote “Não espere até sentir na pele”. O objetivo é trazer ao centro dos debates os trabalhadores rurais e/ou aqueles que estão diariamente expostos aos raios solares em virtude de sua profissão.
“A prevenção ao câncer da pele é importante em todas as esferas da sociedade, desde aqueles que estão expostos ao sol por lazer até os que precisam trabalhar ao livro todos os dias. Por isso, queremos mostrar as formas possível de fotoproteção, como o uso de filtro solares e de barreiras físicas, como bonés, chapéus, óculos”, explica Renato Bakos, coordenador do Departamento de Oncologia Cutânea da SBD.
Nesse ano, a iniciativa foi marcada pela retomada de mutirões gratuitos para à população. Os atendimentos foram realizados no início de dezembro em cerca de 100 postos cadastrados e espalhados pelo Brasil. Nesses locais, os pacientes contaram com atendimento de especialistas da SBD e receberam informações sobre prevenção ao câncer da pele. Como esta é uma ação resolutiva, os pacientes que tiveram alguma lesão suspeita foram encaminhados para tratamento.
“O mutirão é um dos pilares da campanha da SBD. Nos últimos dois anos não tivemos como realizar em virtude da pandemia de covid-19. Por isso, estamos muito felizes de poder retomar esse contato com a população, que é extrema importância para a conscientização sobre o câncer”, diz Bakos.
Ações – Além dos atendimentos, a campanha ganhou força nas redes sociais da entidade. Durante dezembro serão publicados cards, vídeos e motions explicativos sobre o câncer e a importância de procurar um médico dermatologista em caso de aparecimento de uma mancha suspeita. Estão previstos ainda a participação de influenciadores e celebridades gravando vídeos incentivando a população a procurarem um médico de confiança e ficarem sempre atentos aos sinais.
Outra ação bastante consagrada e que estará presente nesta edição da campanha é o apoio e iluminação de prédios públicos e monumentos históricos ao redor do País na cor laranja. Entre as entidades que apoiam a campanha estão a Associação Médica Brasileira (AMB); o Tribunal Regional Federal da 2ª Região (TRF2); o Tribunal de Justiça Militar do Estado de São Paulo (TJMSP); o Conselho Nacional de Justiça (CNJ); a Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Amazonas; entre outras.