Preenchimentos faciais e complicações: como prevenir, reconhecer e tratar



Preenchimentos faciais e complicações: como prevenir, reconhecer e tratar

27 de janeiro de 2020 0

JSBD – Ano 23 – N.06 – 01 – DEZEMBRO-FEVEREIRO

Ada Trindade de Almeida
Membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia |
Conselho Editorial da Revista Surgical & Cosmetic Dermatology

Os preenchedores faciais são usados há mais de 20 anos. Recentemente, com o aumento na expectativa de vida e a busca por melhora na aparência e no bem-estar, houve uma explosão de sua utilização, principalmente daqueles à base de ácido hialurônico, porque são passíveis de reversão clínica pela hialuronidase. Esse aumento, porém, veio associado ao controle insuficiente dos produtos e dos profissionais injetores, fazendo crescer também o número de complicações, bem como a preocupação com os efeitos adversos, que podem variar de reações alérgicas ao risco de necrose cutânea.

Várias publicações científicas recentes abordam o tema em consensos, algoritmos e estudos retrospectivos, incluindo um Consenso Brasileiro publicado na Surgical & Cosmetic Dermatology, mas o número real de complicações ainda é desconhecido, porque na maioria dos casos a notificação oficial não é feita.

De forma objetiva, Heydenrych e colaboradores (2018) tentaram agrupar medidas preventivas e abordagens de complicações em um plano de dez pontos; Snozzi P. e Van Loghem (2018) limitam-se às complicações, e o Consenso Brasileiro inclui a noção do tempo de ocorrência do evento em seu algoritmo de tratamento.

Os fatores predisponentes das complicações devem ser classificados naqueles relacionados ao paciente, ao produto ou ao procedimento. Entre os relacionados ao paciente estão doenças, medicamentos e procedimentos (médicos, dentários, estéticos) preexistentes. Já os relacionados ao produto injetado incluem pureza, concentração, associações com outras substâncias, técnica de manufatura (nível e tipo de cross link, características reológicas) e reversibilidade (alguns produtos são mais fáceis de serem dissolvidos pela hialuronidase que outros).

E, por fim, existem os fatores relacionados ao procedimento em si. Para um boa execução, é preciso ter conhecimento das características estéticas faciais, das variáveis étnicas, de gênero, do melhor produto para cada plano anatômico, das áreas de risco e saber evitar, reconhecer e tratar as complicações vasculares (oclusões, isquemias, risco de necrose cutânea e até cegueira), inflamatórias (edemas, nódulos, efeito tyndal), infecciosas (abscessos e biofilmes) e discrômicas (hipo e hiperpigmentações, teleangectasias, eritemas persistentes) pós-procedimentos.

Parece fácil? Não é. O grande problema é o aumento de casos de complicações por procedimento realizados por não médicos, que acabam chegando aos nossos consultórios. Para salvaguardar nosso campo de atuação cosmético, o dermatologista precisa aprofundar e atualizar os conhecimentos estéticos e assegurar que a prática diária seja a mais segura possível, começando com a seleção correta de pacientes e produtos, seguida de planejamento cuidadoso do procedimento, observando técnicas assépticas e boas práticas clínicas.

Referências

Urdiales Galves F. Delgado N, Figueiredo V, Lajo-Plaza J et al. Preventing the Complications Associated with the Use of Dermal Fillers in Facial Aesthetic Procedures: An Expert Group Consensus Report. Aesth Plast Surg (2017) 41:667-677.

Trindade de Almeida A, Banegas R; Boggio R; Bravo B; Braz, A; Casabona G; Coimbra D; Espinosa S; Martinez C. Diagnóstico e tratamento dos eventos adversos do ácido hialurônico: recomendações de consenso do painel de especialistas da América Latina. Surgical & Cosmetic Dermatology, 2017; 9(3): 204-213.

Heydenrych I, Kapoor K, De Boulle K, Goodman G, Swift A, Narendra, Rahman E..Clinical, Cosmetic and Investigational Dermatology, 2018:11 603-611.

Philippe Snozzi P, Van Loghem J, Complication Management following Rejuvenation Procedures with Hyaluronic Acid Fillers − an Algorithm-based Approach. Plast Reconstr Surg Glob Open, 2018; 6:2061.

Chatrath V, Banerjee P, Goodman G, MD, Rahman E. Soft-tissue Filler–associated Blindness: A Systematic Review of Case Reports and Case Series. Plast Reconstr Surg Glob Open, 2019;7:e2173.

 

 

 





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