O novo mandamento do século 21 deveria ser “não fumarás”. Uma pesquisa recente concluiu que não apenas os cânceres de pulmão, pescoço e cabeça estão correlacionados com o tabagismo, mas vários outros, como o de bexiga, por exemplo, surgem no caminho que as substâncias tóxicas do cigarro percorrem no corpo humano. Nesse rol, estão tumores como os de mama, de intestino e até de colo de útero. Estudos feitos pelo Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (Icesp), com a colaboração da Universidade de São Paulo (USP), em 2010, concluíram que 65% dos homens e 25% das mulheres com câncer de bexiga eram fumantes ou tinham um histórico de consumo de tabaco. O alerta surge às vésperas do Dia Mundial sem Tabaco, marcado para amanhã.
Os dados foram levantados pelos pesquisadores do Icesp e da USP dentro do estado de São Paulo, mas em termos nacionais essa proporção aumenta. “Podemos dizer que 70% das pessoas com esse tipo de câncer (bexiga) foram ou são fumantes. E o pior, quando se trata de um não fumante, a resposta ao tratamento é positiva em mais de 80%; mas, se for fumante, essa taxa cai para 20% e as chances de sobrevida são bem menores”, explica o oncologista Anderson Silvestrini, diretor técnico do Grupo Acreditar (ex-Ceon), um dos centros especializados em tratamento de câncer do Distrito Federal.
Não é o caso do mineiro Euler de Paula Velozo. Ele acaba de completar 60 anos e afirma que não se deixa abater com a doença, descoberta no fim do ano passado. Ele iniciou há pouco tempo o primeiro dos três ciclos de quimioterapia prescritos e reage bem às sessões. Mas a força maior nesse processo de terapias vem da própria crença de que tudo vai dar certo e de um estado de espírito que o ajuda a superar o trauma e o desespero. “A doença, apesar de ter sido um choque, nos leva a fazer uma série de reflexões sobre a vida. Passamos a dar valor às pequenas coisas e a ter uma percepção mais clara do que realmente é importante nessa vida”, comenta o economiário aposentado.
Euler afirma ainda que a doença permite uma revisão de valores e a recuperação de alguns tesouros pessoais muitas vezes abandonados entre uma fase e outra da vida. Uma dessas conquistas que ele diz ter resgatado foi a sua banda de rock especializada em clássicos dos anos 1960 e 1970, cujos integrantes estão na mesma faixa de idade. Ao contrário do que sugere o nome — Radicais Livres, substâncias vinculadas a processos degenerativos do corpo —, o grupo é movido a alto-astral, humor e nostalgia. “Além de reafirmar a existência da Jovem Guarda, do bom rock dos anos 1960, temos de passar aos jovens essa consciência de que o tempo do cigarro já passou, que não se deve fumar ou comer gorduras”, ensina Euler, com a experiência de um fumante que abandonou o vício há 30 anos.
Efeito retardado
Essa longa pausa no hábito que era moda na geração de Euler não impediu, porém, a aç&a…