O papel da ocitocina para a saúde da pele



O papel da ocitocina para a saúde da pele

11 de janeiro de 2021 0

Na medicina, é comum encontrar um estudo de uma determinada área que, posteriormente, tenha reflexos em outras especialidades. E esse é o caso da ocitocina. Normalmente associado aos sentimentos de bem-estar e felicidade, na saúde o hormônio tem seus efeitos reconhecidos na contração uterina, ejeção de leite, prazer sexual e reduções do estresse e da ansiedade. Porém, mais recentemente, estão surgindo estudos relacionando a ocitocina à diminuição do envelhecimento e cicatrização da pele, e nos tratamentos do autismo e da dor crônica.

“Estudos recentes demonstraram que a ocitocina apresenta efeitos antienvelhecimento sobre o fibroblasto e indicam que esta pode ser utilizada como agente no tratamento do envelhecimento cutâneo. Outros estudos demonstraram que o hormônio apresenta efeito anti-inflamatório e ação cicatrizante com regeneração da microvascularização da pele. Desse modo, verificamos que muitos trabalhos mostram cada vez mais evidências de que a ocitocina tem ação no tratamento do envelhecimento cutâneo, da jovialidade e em diversos campos da medicina”, explica João Carlos Lopes Simão, médico colaborador da Divisão de Dermatologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (USP) e membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia.

Felicidade x beleza
Uma pessoa feliz é naturalmente mais bonita ao olhar dos outros, certo? Isso acontece porque o cérebro reage positivamente a esse comportamento e aos sinais de felicidade, que funcionam como verdadeiros códigos de comunicação trocados entre os indivíduos. O cérebro interpreta esses códigos e leva as pessoas a sentirem mais atração e a acharem mais bonitos os indivíduos bem-humorados e que transmitem coisas boas. Com isso, é possível afirmar que uma pessoa feliz e sorridente produz ocitocina não apenas para si, mas estimula a produção do hormônio e sensações positivas também em quem está por perto e interagindo positivamente com ela – ou seja, a beleza e o bom-humor são literalmente contagiantes. “Sempre teremos essa percepção quando olhamos casais felizes e casais tristes. Os casais felizes são mais bonitos ou, pelo menos, assim os percebemos”, pontua João Carlos Simão.

Na dermatologia, a ocitocina é muito relacionada à busca pela beleza. Contudo, nesse contexto, ela se apresenta de maneiras diferentes em dois tipos distintos de pacientes: os que querem controlar o tempo e o envelhecimento, buscando procedimentos estéticos com alta frequência para se manterem com aparência mais jovem; e os que não brigam com os sinais do tempo e querem amadurecer com beleza, mas naturalidade – e, por isso, procuram tratamentos para, por exemplo, amenizar manchas, rugas, flacidez. “Envelhecer bem significa manejar o envelhecimento natural com ações preventivas e de tratamento sobre as doenças crônico-degenerativas, e isso engloba manter qualidade de vida com boa atividade física e alimentação correta; construir relacionamentos afetivos e sociais harmômicos; e também realizar procedimentos estéticos para tratamento dos sinais de envelhecimento, mas sem perder naturalidade e sem transformações radicais”, esclarece João Carlos. Para o médico, aceitar o envelhecimento natural não equivale a envelhecer bem. “Com o aumento da expectativa de vida e das variadas possibilidades de prevenção e de tratamento de doenças crônico-degenerativas, uma mulher com idade entre 50 e 60 anos, dependendo do estilo de vida, pode ter a aparência de uma pessoa de 40 anos”, disse.

Os homens também têm buscado tratamentos estéticos em consultórios dermatológicos. Esse crescimento, imagina-se, muito tem a ver com a influência das mídias sociais e a disputa por likes na internet. Porém, há uma boa porcentagem que procura tratamentos não por exibição, mas para ter uma boa aparência para competir no mercado de trabalho e também por motivação afetiva. No entanto, é papel do médico, além de sugerir os tratamentos adequados a cada indivíduo, alertar sobre exageros na busca constante pela juventude e identificar pacientes que apresentem distúrbio de imagem (Transtorno Dismórfico Corporal). “Tenho verificado pacientes cada vez mais jovens que querem se submeter a procedimentos estéticos transformadores porque encontram pequenos defeitos em suas fotos nas redes sociais ou porque acham que já estão envelhecendo”, esclarece.

Reposição de bem-estar
É sabido que a produção de ocitocina diminui naturalmente com a idade e que é possível fazer a reposição da mesma, especialmente por meio da administração intranasal. Entretanto, o que nem todos sabem é que há formas naturais de aumentar a sua produção e que acarretam também no aumento da produção de outros hormônios e neurotransmissores benéficos. “Uma excelente maneira de obtê-la é por meio dos exercícios físicos regulares. A yoga e a meditação também são boas práticas que vêm ganhando espaço no nosso meio”, diz Simão. As principais substâncias envolvidas na sensação de bem-estar e felicidade são a endorfina, a dopamina, a serotonina e a ocitocina, "mas também são importantes os níveis normais de hormônios tireoidianos, hormônios sexuais, cortisol etc.”, complementa.

É importante lembrar, porém, que os níveis de ocitocina mais altos não necessariamente significarão uma pele mais bonita e saudável. A saúde da pele, além da questão hormonal, envolve cuidados como evitar a exposição solar, o tabagismo e a poluição, além de fatores genéticos (envelhecimento intrínseco). Entretanto, quem tem uma vida mais tranquila e a encara de forma mais leve, provavelmente envelhecerá mais devagar, desde que considere todos os outros fatores envolvidos no processo de envelhecimento.

 





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