O futuro da medicina pós-pandemia
Política e Saúde
Nos últimos meses, verificou-se uma enorme quantidade de transmissões ao vivo (lives) pela internet. E, apesar de a maioria ter sido voltada para entretenimento, com shows e entrevistas, uma boa parte deteve a atenção do público por outro motivo: informações a respeito da Covid-19 e seus reflexos. É fato que a comunicação por meio de mídias sociais, seja Youtube, Instagram, Facebook ou qualquer outro veículo, veio para ficar e não é de hoje. Mas em 2020, com a chegada da pandemia e diante de tantas fake news, a necessidade de encontrar informações confiáveis e de fontes seguras se tornou fundamental. E os médicos – além de outros profissionais da área de saúde – se tornaram uma espécie de porto seguro em relação à veracidade das informações (muitas vezes conflitantes) que chegavam à população.
De acordo com Maurício Conti, conselheiro do CRM-SC, membro da Codame de SC e coordenador médico de Mídia Eletrônica da SBD, o contexto deste ano favoreceu o reconhecimento dos temas de saúde como imprescindíveis para a sociedade, ao mesmo tempo em que os atendimentos e encontros presenciais ficaram provisoriamente impedidos, o que acabou jogando para primeiro plano as ferramentas de comunicação digital.
“Agora, já passados alguns meses, é preciso que se façam análises sobre o que valeu a pena, o que não valeu, bem como o que não pode ocorrer, visto que as balizas da ética profissional são um dos diferenciais do ofício de médico”, pontua. E os conselhos regionais de medicina (CRMs), é claro, estão de olho.
Para Débora Ormond, conselheira do CRM-MT e membro da Comissão de Ética e Defesa Profissional da SBD, o uso de tecnologias em ambiente web como apoio à saúde é um caminho sem volta, e pode servir como instrumento de humanização e melhoria ao atendimento à sociedade, já que ela sempre impõe novos desafios na relação médico/paciente.
“Em tempos de pandemia, as lives proporcionam rápido acesso à informação, disponibilizam rapidamente orientações médicas na tranquilidade do lar, tanto para o médico como para o público. A despeito das consequências positivas, entretanto, existem muitos preceitos éticos e legais que precisam ser assegurados pelo profissional. O exercício da medicina mediado por tecnologias, mesmo para fins educativos e promoção de saúde, expõe em demasia a figura do médico, de forma que os mesmos problemas éticos que podem ser encontrados no atendimento médico pessoal estão presentes nas orientações durante as lives. Trata-se de ferramenta que deve ser usada de forma adequada, sempre com o objetivo de obter o bem-estar da sociedade e respeitando os preceitos ético e legal, como qualquer outra forma de publicidade médica”, esclarece.
Cuidado com propaganda
Embora boa parte dos médicos esteja preocupada em realmente passar informação de qualidade, não é difícil encontrar casos de profissionais que tentam se promover por meio das redes – casos como o do Doutor Bumbum são muitos. Entretanto, o Conselho Federal de Medicina (CFM) é claro em relação a propagandas e marketing pessoal.
“A mercantilização da medicina pode ser uma tentação para alguns, mas é um caminho ameaçador para a profissão no médio e no longo prazo, tanto no sentido específico do médico, que assim enfrentará denúncias e julgamentos éticos, quanto no sentido geral, ao aceitar uma visão que reduz o valor do trabalho médico a uma commodity”, comenta Conti.
Além disso, lembra Débora Ormond, o médico tem a liberdade de expressão disciplinada por um Código de Ética Profissional, bem como deve obediência a uma legislação civil e criminal, e ambos objetivam tanto fiscalizar como penalizar os que abusam do direito de informar. Ou seja, a publicidade médica deve obedecer, exclusivamente, a princípios éticos de orientação educativa, não sendo comparável à publicidade de produtos e práticas meramente comerciais (Resolução 2217/2018).
“O médico pode divulgar seu endereço do trabalho e telefone em suas mídias sociais, mas lhe é vedado realizar divulgação publicitária, mesmo de procedimentos consagrados, de maneira exagerada e fugindo de conceitos técnicos, para individualizar e priorizar sua atuação ou a instituição em que atua ou tem interesse pessoal. Os esclarecimentos à sociedade por meio das lives não podem ser usados para autopromoção, aferição de lucro ou para angariar clientela. Não é permitido, por exemplo, nessas oportunidades, a divulgação de endereço ou telefone de consultório. E caso não obedeça ao Código, esse médico poderá sofrer processo ético profissional”, complementa a conselheira do CRM-MT.
O futuro da “medicina digital”
Ainda que as lives com médicos devam grande parte de seu sucesso especialmente à procura de informações sérias em relação à pandemia e à falta de orientações oriundas de um órgão oficial do governo, é certo que elas chegaram para ficar, tanto os encontros para profissionais da área em plataformas online com conteúdo de educação médica continuada como também as lives direcionadas ao público externo.
Se algumas apresentações – e “apresentadores” – tenham levado o status do médico ao de educador, praticamente, é preciso deixar claro que as consultas presenciais e direcionadas jamais serão substituídas, assim como os eventos e congressos para a comunidade médica não deixarão de existir. As redes sociais, portanto, se tornaram mais um meio de comunicação, mas jamais serão o único
Troca de informações segura
Em abril, durante uma conferência que reuniu membros da Sociedade Brasileira de Imunologia, da Rockefeller University e da UFMG, a reunião foi invadida por neonazistas que usaram a transmissão para mostrar imagens de Hitler. Além do constrangimento para os participantes, todos ficaram preocupados com o vazamento de dados sigilosos.
“Em transmissões ao vivo feita por redes sociais, com abordagem de assuntos médicos ou mesmo reuniões fechadas em que se discutam casos clínicos e haja troca de informações de pacientes, a utilização dos recursos de segurança disponíveis é de extrema importância para preservar o sigilo médico. A má utilização desses mecanismos pode configurar uma quebra do dever de cuidado, gerando a responsabilização do organizador”, alerta Débora.
O episódio chama a atenção para um questionamento muito natural em relação à segurança da troca de informações durante lives e webinars. Ricardo Correa, diretor da LDA, empresa especializada em segurança da informação, explica que os principais players desse mercado garantem a segurança dos dados, desde que sejam seguidas suas diretrizes.
“Desde o início da pandemia, ferramentas como Zoom, Cisco WebEx, Microsoft Teams e Google Hangouts lançaram novos protocolos de segurança para garantir a privacidade dos dados trocados nas reuniões e encontros não presenciais com muitas pessoas. Porém, é preciso ficar atento ao que oferecem as diferentes versões de cada ferramenta e suas condições de uso. Para corporações, de uma forma geral, utilizar serviços pagos, com recursos de auditoria, criptografia e garantia de confidencialidade dos dados trafegados dentro da plataforma é fundamental”, pontua.
Correa lembra, ainda, que promover um acesso autenticado e com senhas às salas de evento, ter uma lista de usuários corporativos previamente cadastrados e autorizados a participar, não divulgar o link do evento a quem não esteja autorizado e eleger um moderador para que os microfones e câmeras só sejam ativados por ele ajudam a garantir a privacidade dos encontros virtuais.
“Curiosamente, muitas práticas de segurança já conhecidas dos eventos presenciais comungam com os eventos no mundo virtual/remoto e têm a sua aplicação de forma bastante similar. Os serviços de maior qualidade já oferecem todos os controles necessários para garantir não só a qualidade técnica como os mecanismos de gestão e mediação de cada evento”, comenta.
SBD Inovação 4.0
No ar desde março, o SBD Inovação 4.0 tem promovido a capacitação científica do associado e o aprimoramento na gestão de negócios por meio de cursos rápidos e atualizados. Médicos residentes que estão no início da carreira também se beneficiam com a iniciativa. Até o momento, estão em andamento as atividades: gestão de clínicas dermatológicas; curso de micologia; temas em dermatoscopia; além das ações voltadas para a equipe administrativa que atua no consultório/clínica.
"O Projeto de Inovação 4.0 começou com a ideia construir um elo de confiança entre a SBD e os dermatologistas, oferecendo capacitação e serviços que pudessem agregar valor aos seus negócios. Acabou se transformando em uma sofisticada plataforma de conteúdos científicos e de gestão. Mas a razão pela qual me orgulho desse projeto, é a integridade do propósito, que é amplificar a capacidade de crescimento dos médicos, através de um olhar mais amplo, respeitando o seu juramento pela medicina,adicionando uma visão estratégica de expansão", considera o CEO da MedConsulting, Leandro Cardoso.
Lembrando que esses conteúdos contam com o apoio da MedConsulting Consultoria Médica e estão disponível na área científica. Para acessar e iniciar as atividades, basta entrar no seguinte endereço: http://www.sbd.org.br//dermatologia/acoes-campanhas/sbd-inovacao-40/.