SBD estimula dermatologistas à pesquisa sobre a relação entre Covid-19 e doenças de pele



SBD estimula dermatologistas à pesquisa sobre a relação entre Covid-19 e doenças de pele

4 de maio de 2020 0

Os médicos, em especial os dermatologistas, devem estar atentos para registrar e catalogar, com o suporte de fotos e exames histopatológicos, manifestações cutâneas em pacientes com diagnóstico positivo para Covid-19. Dessa forma, os profissionais podem oferecer importantes contribuições ao esclarecimento de hipóteses que apontam para possíveis relações entre o coronavírus e doenças de pele ou em mucosas detectadas nestes pacientes.

A Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD) reitera essa recomendação, pois entende que, até o momento, não há evidências comprovadas de que essa relação de causa e efeito exista. Nesse sentido, apenas por meio do estímulo à investigação científica que se poderá ter uma resposta concreta sobre o tema. Alguns artigos publicados recentemente, já revisados pela entidade, sugerem essa ligação, mas apresentam conclusões sem observar aspectos metodológicos fundamentais.

Nesta semana, mais um trabalho nesse sentido foi abordado pela imprensa. O jornal espanhol El País trouxe matéria sobre artigo publicado no British Journal of Dermatology, assinado pela professora da Cristina Galván Casas e sua equipe, da Academia Espanhola de Dermatologia e Doenças Venéreas (AEDV), no qual é sugerida a associação do corononavírus com cinco tipos de manifestações cutâneas diferentes. Além disso, os pesquisadores apontam indícios da relação entre o tipo de complicação dermatológica e a gravidade da contaminação pela Covid-19.

Para obter essas conclusões, o time liderado pela professora Cristina Casas reuniu, durante duas semanas, informações de 375 pessoas com suspeita (141) ou diagnosticadas (234) com Covid-19. Elas foram selecionadas por atenderem a critérios clínicos ou por confirmação em laboratório de contaminação pela doença e por apresentarem alterações cutâneas concomitantes, sem causa conhecida.

Além de resgatar dados e informações dos pacientes, cada caso foi fotografado. De acordo com a AEDV, os cinco padrões de manifestações cutâneas registrados no grupo acompanhado foram os seguintes.

1) Erupções similares a geladuras (aspecto semelhantes a lesões cutâneas geradas por exposição ao frio prolongado) nas áreas acrais (pés e mãos):  apareceram em 19% dos casos, em pacientes mais jovens, nos estágios finais do processo da Covid-19, com duração de 12,7 dias e associação a quadros menos graves.

2) Erupções vesiculares: observadas em 9% dos casos, mais frequentes em pacientes de meia idade e associadas a uma gravidade intermediária.

3) Lesões urticariformes:  registradas em 19% dos casos, principalmente no tronco ou espalhadas pelo corpo, e caracterizadas por coceira intensa. Foram detectadas em pacientes mais graves e, com mais frequência, ao mesmo tempo de que outros sintomas causados pelo coronavírus.

4) Erupções máculo-papulares: detectadas em 47% dos casos, geralmente em pacientes com maior gravidade, apresentando quadro semelhante ao de outras infecções virais.

5) Livedo-reticularis ou necrose por obstrução vascular: encontrada em 6% dos casos, geralmente em pacientes de mais idade e mais graves (nesse grupo foi registrada uma mortalidade de 10%).

Segundo o professor Paulo Ricardo Criado, coordenador do Departamento de Medicina Interna da SBD e pesquisador Pleno da Pós-Graduação da Centro Universitário Saúde ABC (FMABC), esse trabalho constitui estudo prospectivo e multicêntrico, com a maior casuística até agora. No entanto, alerta, apesar da farta documentação fotográfica, não houve, porém, estudo histopatológico.

Além disso, ele prossegue:” se considerarmos, mesmo que subnotificados os casos diagnosticados com lesões na pele, a frequência destas alterações cutâneas na Covid-19 continua extremamente baixa (em torno de 0,1569% dos 239 mil doentes com esse diagnóstico naquele país). Assim, lesões na pele pela Covid-19 existem, porém não devem criar ansiedade e expectativas de que sejam indicadoras precisas da doença”.

Para facilitar a análise do trabalho dos autores espanhóis, os professores Paulo e Roberta Criado elaboraram diagrama (ver abaixo) com a representação da casuística encontrada e a possível fisiopatogenia das diferentes lesões cutâneas relatadas, a partir de estudos de anatomopatologia em pacientes da epidemia prévia de SARS-CoV, entre 2002-2003, onde se expressavam os principais receptores das membranas das células humanas na pele, que em teoria permitiriam ativar células cutâneas e produzir as diferentes lesões micro e macroscópicas.

O presidente da SBD, Sérgio Palma, concorda com as considerações de Criado. “De fato, as publicações até o momento apontam para uma prevalência baixa de manifestações cutâneas em pacientes com Covid-19. A ausência de exame anatomopatológico garantindo a patogênese específica da doença é um complicador para se constatar essa relação causa-efeito. Nesse trabalho espanhol, verifica-se um conjunto de lesões polimorfas, o que deixa uma dúvida: são manifestações da doença ou efeitos secundários dos tratamentos?”, indagou.

Segundo ele destacou, para responder a essas dúvidas e outras é preciso investir em ciência. “A SBD estimula a produção de estudos com maior controle e melhor desenho sobre esse tema. Conduzidos com critério, eles permitirão conclusões mais acertadas sobre a frequência das manifestações dermatológicas relacionadas à Covid-19”, destacou o presidente, para quem o primeiro passo neste processo implica em estar atento aos fatos que acontecem ao redor dos profissionais e pacientes.





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