No Dia Mundial do Vitiligo, SBD reforça a importância de melhorar o acesso dos pacientes à assistência em saúde
Problemas no acesso a equipamentos que permitem tratamento e inexistência de medicamentos específicos para o controle da doença são realidades que afetam as pessoas que vivem com vitiligo. No Brasil, mais de um milhão de pessoas manifestam essa condição (0,5% dos brasileiros). No mundo, a doença atinge, em média, 1% da população. Em 25 de junho, dia dedicado ao tema pela Organização Mundial da Saúde (OMS), a Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD) se une ao movimento em pela conscientização sobre esse tema diversas vezes negligenciado pela população e aponta gargalos no campo da assistência que devem ser superados.
Uma das críticas da SBD com relação ao manejo dos pacientes reside na dificuldade de acesso desse grupo às câmaras de fototerapia espalhadas pelo País, fenômeno que ocorria mesmo antes da pandemia de covid-19.
“Temos essas câmaras em hospitais universitários e serviços particulares. A SBD tem ajudado, ao longo das gestões, os serviços credenciados a desenvolverem um serviço de fototerapia, mas há outras doenças que também necessitam desse tratamento, como psoríase, linfoma cutâneo, por exemplo. Muitas vezes, os hospitais conseguem colocar alguns pacientes de vitiligo na fototerapia, mas não dão vazão à demanda. É uma luta para que nós aumentemos o acesso deles a um tratamento adequado do vitiligo, incluindo o tratamento fototerápico”, declara a coordenadora do Departamento de Fotobiologia da SBD, Ivonise Follador.
Medicação – O assessor do Departamento de Biologia Molecular Genética e Imunologia da SBD, Caio de Castro, concorda que existe, no Brasil, pouca oferta de máquinas de fototerapia para a população. Além disso, ele aponta um outro problema para as pessoas com vitiligo, no mundo inteiro: a falta de medicação específica para a doença.
Além da inexistência de produtos específicos, o especialista alerta que os pacientes com vitiligo devem evitar cremes à base de hidroquinona, que podem piorar os sinais da doença. Castro faz ainda uma recomendação ao portador: se tem tendência a ter vitiligo em área de trauma, evite esportes de contato. A dica é principalmente para as crianças. “Se em áreas onde há trauma surge uma nova lesão, o paciente deve trocar, por exemplo, o jiu-jitsu pela natação”, finaliza.
Outro ponto importante para esse segmento da população é o suporte psicológico, conforme destaca Ivonise Follador. “Precisamos perceber o impacto negativo da mancha no paciente, os medos que existem, e estimular, se for o caso, a busca do suporte em psicoterapia. Isso pode ajudar a prevenir a diminuição da autoestima, o surgimento da insegurança, da depressão e da ansiedade”, ressaltou, lembrando ainda da relevância do papel do médico no seguimento dos casos.
Orientações – Preocupada com o tema, em 2020, a SBD publicou o “Manual Prático de Fototerapia”. Com textos objetivos e didáticos, tem uso garantido em consultório, clínicas e hospitais que atendem pacientes em busca desse procedimento, inclusive pessoas com vitiligo. No mesmo ano, os Anais Brasileiros de Dermatologia (ABD), divulgaram o “Consenso sobre Tratamento do Vitiligo”. O trabalho constitui um guia para tratamento clínico e cirúrgico da doença.
Coloração – O vitiligo é caracterizado pela perda da coloração da pele em virtude da destruição dos melanócitos, células que formam a melanina. Ele não é contagioso, mas causa sequelas emocionais em virtude da discriminação sofrida por pessoas portadoras.
Segundo Ivonise, 25% dos casos aparecem antes dos 10 anos de idade, 50% até 20 anos, e de 70% a 80% antes dos 30 anos. “O Dia Mundial é importante, pois ajuda os pacientes a verem que não estão sós, que existem perspectivas e que há casos de regressão importante das manchas. O mais importante acreditar e fazer um tratamento sério. Existem resultados muito positivos no tratamento. Não ter cura, não quer dizer não ter tratamento”, disse.
O vitiligo pode se manifestar de seis formas: focal (manchas pequenas em uma área específica do corpo); mucosal (manchas somente nas mucosas, como lábios e região genital); segmentar (manchas distribuídas unilateralmente, apenas em uma parte do corpo); acrofacial (manchas nos dedos e em volta da boca, dos olhos, do ânus e genitais); comum (manchas no tórax, abdome, pernas, nádegas, braços, pescoço, axilas e demais áreas acrofaciais); e universal (manchas espalhadas por várias regiões do corpo).
Atualmente, o tratamento do vitiligo é feito com fototerapia com radiação ultravioleta B banda estreita (UVB-nb), fototerapia com ultravioleta A (PUVA), laser, além de técnicas cirúrgicas de transplante de melanócitos. “Estão sendo pesquisados ainda tratamentos tópicos, à base de inibidores de prostaglandinas e à base de inibidores de JAK, por exemplo. Mas, certamente, aparecerão outras medicações em médio prazo. O importante é que o paciente procure ajuda, tenha apoio médico e psicológico e não deixe que a doença o tire do seu propósito de vida”, explica Ivonise.