DermatoRio 2019: SBD investe em atendimento, cobra melhores políticas de saúde e capacita médicos para enfrentar aumento da hanseníase



DermatoRio 2019: SBD investe em atendimento, cobra melhores políticas de saúde e capacita médicos para enfrentar aumento da hanseníase

12 de setembro de 2019 0

O total de casos de hanseníase voltou a crescer no Brasil, segundo dados do Sistema de Informação de Agravos de Notificação do Ministério da Saúde (Sinan). Em 2016, foram registrados 25.218 novos casos da doença. Em 2018, esse total subiu para 28.660, o equivalente a um aumento de 13,6%, motivado pelo reforço das ações de detecção da doença. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), mais de 200 mil novos casos de hanseníase são detectados em todo o mundo anualmente, sendo que Brasil, Índia e Indonésia concentram 80% desse total.

Diante do quadro epidemiológico, a Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD) atua em múltiplas frentes (atendimento, auxílio na definição de políticas públicas junto ao Ministério da Saúde e formação de profissionais para diagnosticar a doença, entre outros pontos). Segundo o presidente da entidade, Sergio Palma, a prevenção e o combate à hanseníase dependem de um enfoque amplo para que os resultados positivos apareçam.

Estratégias – Para contribuir com a formulação de novas estratégias sobre o assunto, a SBD decidiu incluir uma mesa-redonda sobre essa doença, considerada negligenciada pelas políticas públicas de saúde, na programação do 74º Congresso Brasileiro da especialidade, que teve início nesta quarta-feira (11) e segue até o próximo sábado (14), na cidade do Rio de Janeiro (RJ).

As discussões aconteceram no primeiro dia do evento, em mesa-redonda sobre diferentes aspectos relacionados ao transtorno, que, geralmente, afeta populações de baixa renda e em situação de vulnerabilidade social. Na ocasião, em parceria com o Ministério da Saúde e a Novartis, a SBD capacitou cerca de 80 médicos de família na identificação da doença.

“Esse é um tema urgente. O aumento da detecção de novos casos demonstra que a doença precisa ser vista como um importante problema de saúde pública, pois a cada ano são detectados casos que já poderiam ter sido identificados antes. Quando isso acontece, ocorre aumento da detecção naquele ano, em comparação com anos anteriores”, enfatiza Sérgio Palma.

Para Egon Daxbacher, diretor da SBD que tem se dedicado ao tema, é preciso falar da hanseníase cada vez mais. Para ele, é necessário capacitar cada vez mais os profissionais de saúde no reconhecimento da doença e investir em informações e campanhas em relação aos seus sinais e sintomas.

Assistência – Por sua vez, no campo do atendimento, em parceria com o Ministério da Saúde e o laboratório Novartis Brasil, a Sociedade vem apoiando o Projeto Roda Hans. A iniciativa que acontece no Estado do Rio de Janeiro, desde agosto com previsão de término no fim de setembro, tem levado atendimento especializado à população e capacitação a profissionais para identificar casos da doença.

Além da conscientização e da assistência qualificada, o foco está no início do tratamento precoce. Participam da atividade as Secretarias Estadual e Municipal de Saúde do Rio de Janeiro, a Regional da SBD no Estado e o Movimento de Reintegração das Pessoas Atingidas pela Hanseníase (Morhan).

ACESSE O ITINERÁRIO DO PROJETO RODA HANS

Até o momento, 13 localidades da região Metropolitana do Rio de Janeiro, Baixada Litorânea, Norte e Noroeste do Estado foram visitadas. Até o fim de setembro, outras seis cidades da Região Serrana, Centro-Sul, Médio Paraíba e Baía da Ilha Grande receberão a caravana. Em agosto, foram realizados 1.301 atendimentos, com o diagnóstico de 39 casos, e realizados 23 exames de baciloscopia e treinamento de técnicos. No mesmo mês, o projeto capacitou 304 profissionais, mas a meta é treinar 800 especialistas.

Na prática, uma carreta com seis consultórios tem visitado diferentes municípios dando aos pacientes acesso a dermatologistas especialistas em hanseníase que, durante o trabalho, contam com o suporte de residentes de serviços de dermatologia credenciados pela SBD.

O projeto Roda Hans já percorreu outros estados, como Rondônia, Mato Grosso, Goiás, Minas Gerais e Piauí, entre 2014 e 2018. Os resultados acumulados incluem a cobertura por quase 500 municípios, realização de cerca de 70 mil atendimentos e o diagnóstico de 2.369 casos. Depois do Estado do Rio de Janeiro, a caravana seguirá para a Bahia, São Paulo e Espírito Santo.

Capacitação – A coordenadora do Departamento de Hanseníase da SBD, Sandra Durães, ressalta que de alguns anos para cá houve o processo de descentralização do atendimento, isto é, os pacientes que antes eram atendidos em unidades de especialistas em dermatologia, atualmente são atendidos nas Unidades Básicas de Saúde (UBS) no Programa de Saúde da Família (PSF). “Para isso ser possível, os dermatologistas trabalham incessantemente na capacitação dos médicos da Atenção Básica e de Saúde da Família para diagnosticar e tratar a doença”, destaca Sérgio Palma.

Para tanto, a SBD tem treinado médicos de família no reconhecimento da doença em vários locais no Brasil, conforme destacou o presidente da Sociedade, que no serviço público onde atua, em Recife (PE), também atende em ambulatório especializado nessa doença. “É preciso garantir recursos para a pesquisa e o desenvolvimento de novas ferramentas de combate à doença, principalmente em áreas pobres, distantes e vulneráveis. O Brasil ainda tem em torno de 25 mil casos todo ano, sendo que de 8 a 10% desses pacientes terão algum tipo de sequela”, alerta.

Agente etiológico – Doença infectocontagiosa potencialmente curável e que tem como agente etiológico o bacilo Micobacterium leprae, a infecção por hanseníase pode acometer pessoas de ambos os sexos e de qualquer idade, mas é de difícil adoecimento, já que é necessário um longo período de exposição à bactéria, motivo pelo qual apenas uma pequena parcela da população infectada chega a adoecer.

Está classificada entre as doenças ditas negligenciadas que atingem populações com baixo Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). O Brasil, apesar de estar entre as grandes economias mundiais, apresenta grande desigualdade social, com grandes bolsões de pobreza nas periferias de suas metrópoles.

“A maioria da população é resistente à doença e ao entrar em contato com a bactéria consegue desenvolver uma boa imunidade e, automaticamente, resistência à bactéria. Um pequeno percentual de pessoas pode adoecer”, explica Sandra Durães.

O diagnóstico da hanseníase é essencialmente clínico e feito, em sua maioria, pelo exame físico e a história clínica do paciente. A partir daí um médico capacitado pode diagnosticar a doença. “Exames complementares como a baciloscopia, que mede a carga bacilar do paciente, e a biópsia da pele podem ser realizados, porém não são de extrema necessidade. Na maioria dos casos, o diagnóstico pode ser feito apenas pelo exame clínico”, destaca Sandra Durães.





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