Dermatologistas discutem novas abordagens no tratamento da rosácea
A relação entre rosácea e outras comorbidades foi o tema apresentado pela coordenadora da Biblioteca da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), Clívia de Oliveira Carneiro, durante o DermatoRio2019. O tema foi debatido em simpósio que discutiu os diferentes aspectos da doença inflamatória crônica da pele, que envolve diversos fatores genéticos, emocionais e ambientais, sendo mais prevalente em pessoas acima de 30 anos, sobretudo em mulheres, com fototipos mais baixos. Ao todo, cerca de 300 congressistas acompanharam o simpósio.
De acordo com a especialista, as características fisiopatológicas responsáveis pelas manifestações típicas da rosácea – inflamação, vasodilatação e angiogênese – são basicamente três: a ruptura da barreira física da pele, a anormalidade da resposta imune nata e a desregulação vascular e dos neuromoduladores. No entanto, a doença, que anteriormente era descrita como exclusivamente cutânea, atualmente vem sendo associada a outras comorbidades.
“A partir de 2015, estudos publicados em revistas conceituadas começaram a relacionar a rosácea com determinadas comorbidades, como doenças neurológicas – por ex. enxaqueca, Alzheimer e Parkinson –, doenças gastrointestinais, cardiovasculares, autoimunes e alguns tipos de câncer. As pesquisas vêm descrevendo a rosácea como uma inflamação crônica sistêmica, por vezes com similaridade à psoríase. A comparação entre as duas patologias se deve a propriedade comum da alteração da imunidade inata, visto através do aumento das catelicidinas, da proteína C reativa e da diminuição da atividade da paraoxonase, que são preditores de eventos cardiovasculares”, explicou ela.
Consenso – O simpósio contou também com a palestra do dermatologista Luiz Maurício Costa Almeida, que apresentou uma atualização para a classificação ROSacea COnsensus (ROSCO), com novas recomendações para diagnóstico, classificação e manejo. Segundo o especialista, a atualização parte da superposição das diferentes formas de manifestação da doença em um mesmo paciente como principal parâmetro de categorização.
“O fato da pessoa ter uma rosácea fimatosa não excluí a possibilidade de ela ter pápulas e pústulas. O novo consenso vem justamente fazer essa transição de uma classificação que tinha como referência os subtipos, para outra que utiliza fenótipos, ou seja, as características observáveis de um indivíduo. No novo sistema, cada padrão é provisório, uma vez que essas características podem ser modificadas em função do meio-ambiente e de condições genéticas”, afirmou Luiz Maurício.
Tratamento – As abordagens práticas para o tratamento tópico e oral foram conduzidas pela dermatologista Daniela Antelo. Em sua avaliação, a condução da rosácea deve tomar como base os sintomas do paciente, sendo fundamental manter uma rotina diária de cuidados da pele para obter uma melhora.
“Os especialistas devem perder ao menos alguns minutos da consulta explicando a importância de efetuar adequadamente a limpeza, hidratação e proteção da pele, em especial para os homens, que muitas vezes não têm tanta paciência para esses procedimentos”, salientou.
Na ocasião, a dermatologista Rosa Matos falou ainda sobre o uso de novas tecnologias e da toxina botulínica no controle da rosácea. Para ela, já existem evidências suficientes na literatura médica que justificam a adoção de lasers e luz pulsada nas condutas terapêuticas. “Após um número pequeno de sessões, os resultados já são visíveis e têm durabilidade considerável. Além disso, a toxina botulínica também é eficaz, uma vez que a patogênese da doença é mediada do ponto de vista imune e neurológico”, disse.