Riscos e possibilidade de antiandrógenos nas alopecias são abordados por especialistas do RJ




16 de setembro de 2021 0

As alopecias são um importante tema no cotidiano do dermatologista. Por isso, são permanente motivo de debates em eventos da especialidade, com a apresentação de novas formas de tratamento. Para manter os associados atualizados, a Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD) convidou o professor Celso Sodré, que tem uma extensa trajetória relacionada ao tema, para fazer alguns esclarecimentos no SBDcast, divulgado em 04 de agosto. 

Ele é responsável pelo Ambulatório de Alopecias do Hospital Universitário da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e um dos coordenadores do Centro de Estudo dos Cabelos do Instituto de Dermatologia Professor Rubem David Azulay, também no Rio de Janeiro.

Em sua participação no projeto SBDcast, o expert conversou com a coordenadora científica da SBD, Flávia Vasques Bittencourt, sobre o uso de antiandrógenos nas alopecias, aspectos relacionados à segurança do tratamento, efeitos colaterais, contraindicações, interface com médicos de outras especialidades, como ginecologistas, por exemplo, e perspectivas para o futuro. Confira abaixo este bate-papo. 

Flávia Bittencourt – Em quais alopecias os antiandrógenos podem ser usados? Em quais há evidência científica?

Celso Sodré – Certamente, nas androgenéticas, tanto masculina quanto feminina. Também tem sido demonstrado uma ação muito interessante na alopecia fibrosante frontal. Recentemente, uma publicação sobre a dutasterida mostrou ser possível controlar em torno de 90% dos casos de fibrosante frontal, depois de um ano de uso. A finasterida já tinha se mostrado útil antes e na alopecia fibrosante frontal. 

FB – Quais são os anticoncepcionais antiandrógenos? E qual seria a sua condução? 

CS – Os contraceptivos que têm ação antiandrógena são aqueles em que o componente progestágeno tem ação antiandrogênica. Os principais são ciproterona, drospirenona e clormadinona. A ciproterona, que é talvez o melhor, é associada a uma quantidade de estradiol mais alta: 35 microgramas. Os outros apresentam 30 microgramas e 20 microgramas. De qualquer modo, o que recomendo é solicitar ao ginecologista que prescreva, preferencialmente, um desses, com ação antiandrógena.

FB – Os antiandrógenos podem ser utilizados em mulheres em idade fértil? Quanto tempo após a suspensão de cada um deles que a mulher pode engravidar?

CS – Desde que a mulher esteja em esquema de contracepção eficiente e eficaz, eles podem ser usados. Dentre os antiandrógenos que mais se usa, estão: anti 5-alfa redutase, finasterida, dutasterida e espironolactona, que é um bloqueador de receptor de andrógeno. A ciproterona se utiliza muito pouco e tem ainda a bicalutamida, que parece ocupar um espaço importante, que foi o da flutamida, proibida por sua toxidade. Então, pode-se usar esses antiandrógenos, desde que a mulher não engravide. O problema da gestação está no risco de má formação do aparelho geniturinário do feto masculino, que é formado por volta da 12° semana de gestação, o que oferece uma margem de manobra. Assim, é razoável manter a espironolactona até dois meses antes da gestação, depois suspende. Já a finasterida também está adequada dois meses antes. Por sua vez, como a dutasterida permanece mais tempo no sistema, então é interessante suspendê-la quatro ou seis meses antes do projeto de gravidez.

FB – Qual sua rotina em relação aos exames? Quais solicita antes de cada anti-andrógeno? No caso da espironolactona, pede-se só avaliação cardiológica? Se a droga é finasterida, solicita-se testosterona, espermograma? Quando se faz PSA e avaliação ginecológica? É necessário exame de controle depois do início do uso? Compartilha com a gente a sua rotina.

CS – Acredito que para qualquer medicamento usado cronicamente é interessante uma avaliação laboratorial basal antes do seu início. Então, os primeiros seriam hemograma, hepatograma, ureia e creatinina. Esse é o mínimo. Depois, para cada um dos antiandrógenos, há uma orientação. Testosterona e di-hidrotestosterona vale a pena? Não é necessário, mas, às vezes, é interessante para acompanhar a ação do medicamento no organismo. Sabe-se que dutasterida e finasterida causarão aumento na testosterona, com diminuição da di-hidrotestosterona. É útil ver se isso realmente está acontecendo. A espironolactona é um poupador de potássio que pode, eventualmente, levar à hipercalemia, com suas toxidades cardiológicas. Mas, de fato, não se observa isso acontecer. Pelo menos em mulheres saudáveis é bastante seguro o uso, mas se vai ser pedido exame de sangue para ver o hepatograma, não tem nada demais também em colocar sódio, potássio e cloro. Quanto ao PSA, a mesma coisa foi falada antes. Por exemplo, se for uma pessoa de mais idade considero mais necessário. Contudo, ter um valor basal, muitas vezes é interessante, pois sabe-se que finasterida e dutasterida produzirão queda do PSA circulante à metade. Então, para sentir se houve aumento, se o PSA se manteve alto, apesar do anti 5-alfa redutase, é interessante ter o acompanhamento.

FB – Com qual frequência se faz os exames?

CS – Inicialmente, seis meses e depois um ano. Não acho necessário fazer exames com muita frequência, pois são drogas bastante seguras.

FB – Em relação a efeitos colaterais, quais são os principais?

CS – Nos casos da anti 5-alfa redutase, finasterida e dutasterida está, sem dúvida, a diminuição da libido, tanto entre homens quanto em mulheres, onde esse quadro é muito, muito menos frequente. A espironolactona também não costuma gerar grandes efeitos colaterais, mas, às vezes, há queixa de mastodinia, alteração do ciclo menstrual com escape. Porém, se a paciente estiver bem no seu esquema de contracepção com anticoncepcional oral, as chances desse problema aparecer são pequenas. Com respeito à bicalutamida, ainda não tenho experiência para falar sobre efeitos adversos, mas as publicações apontam segurança e poucas reações. 

FB – Quais as principais contraindicações para uso dos antiandrógenos?

CS – Nos casos da finasterida e dutasterida, basicamente depressão. É preciso ficar muito atento, pois há pacientes que ficam bem depressivos. Nestas situações, isto implica em grande risco de efeitos adversos permanentes ou persistentes em pessoas com este padrão. Não me parece uma contraindicação absoluta, mas eu evito se o paciente é depressivo, está em tratamento ou superou um quadro depressivo. Eu compartilho a situação com o psiquiatra para podermos evoluir, juntos, no acompanhamento. No entanto, não acredito ser absolutamente necessário expor o paciente a um medicamento que faz quadro depressivo e, eventualmente, diminui a libido. Para a espironolactona, quando o paciente é hipertenso e já usa medicamentos anti-hipertensivos ou diuréticos, entre outros, eu prescrevo, mas peço que a pessoa converse com seu cardiologista e explique sobre a substituição, por exemplo, de algum outro diurético (clortalidona, hidroclorotiazida) para passar para espironolactona.

FB – A finasterida vem sendo usada em mulheres de forma off-label. Sabe-se que isto gera muita ansiedade. Seria importante a indústria investir na mudança da bula para incluir a população feminina?

CS – Seria muito bom, mas percebo que a indústria não tem muito interesse nisso. Lembro que no lançamento do Propecia® para a alopecia androgenética masculina, o laboratório responsável apresentou junto com uma pesquisa sobre o tema um outro trabalho que apontava a ineficácia da finasterida no tratamento da androgenética feminina, mas na dose de 1mg/dia. Esta não é a dose que se usa para a mulher, por exemplo. Eu uso sempre 5mg, eventualmente 2,5mg, mas 1mg para androgenética feminina é igual a nada. Não funciona mesmo. Na minha avaliação, isso já impactou a indústria para não correr atrás disto. A pesquisa para mudança de bula para a mulher, sobre risco na gestação, mereceria um investimento que, pelo montante exigido, deixaria a indústria em dúvida, já que não haveria retorno financeiro suficiente que justificasse a aposta. Assim, como não se tem isso, nos cabe explicar para a paciente na hora da prescrição que na bula está escrito o que é certo. Ou seja, que a droga é de uso exclusivo para o sexo masculino no tratamento de hiperplasia prostática benigna e que mulheres e crianças não devem fazer uso. Acrescente-se ainda que, mesmo assim, o medicamento é seguro, desde que a paciente não engravide. Se ficarmos à espera do que é label para prescrever, não se indica sulfona para dermatite herpetiforme e nem hidroxicloroquina em caso de erupção polimorfa à luz solar. Temos que saber superar a falta de interesse da indústria farmacêutica com um bom relacionamento médico-paciente.

FB – Em relação às doses, quais que seriam as de finasterida e de dutasterida para homens e mulheres? 

CS – No caso da dutasterida para a hiperplasia prostática, a dose é de 0,5mg, que é o que existe industrializado e equivale à finasterida 5mg. Então, não é 1mg. Finasterida 1mg na alopecia androgenética masculina e só. Quanto à dutasterida 0,5mg, uso naturalmente no homem e na mulher. Sabe-se que tem sido demonstrada alguma evidência de superioridade clínica na eficácia do tratamento da androgenética com a dutasterida em relação à finasterida. Quanto à percepção dos exames laboratoriais é nítido que a dutasterida é muito mais potente em inibir 5-alfa redutase, reduzindo muito a di-hidrotestosterona circulante e aumentando a testosterona circulante. Esse resultado é muito superior ao da finasterida. Assim, indico para homem 1mg de finasterida e 0,5mg  de dutasterida. Já para a mulher, 5mg de finasterida e 0,5mg de dutasterida também.

FB – Qual sua experiência com a bicalutamida? Considera uma droga promissora? 

CS – Acho que é extremamente promissora para o sexo feminino, pois ela atua como bloqueadora de receptor de andrógeno. No homem, provocaria uma feminilização, que não tem interesse para tratamento de androgenética, mas na mulher vem substituir a flutamida com perfil de segurança muito melhor. Então, para as pessoas mais novas, sem experiência com a flutamida, vale lembrar que a flutamida é um espetáculo, sendo usada como a bicalutamida é também: para câncer prostático metastático. Desta forma, para castração química a flutamida é indicada na dose de 250 mg 3 x por dia. O problema da flutamida é que, em algumas pessoas, desenvolve hepatite fulminante, levando a óbito ou mesmo transplante hepático. Com isso, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária, a Anvisa, recomendou aos dermatologistas evitar o seu uso em ação cosmética, o que fez a flutamida ser substituída pela bicalutamida, que tem perfil de segurança hepático muito bom, com baixa incidência de efeitos adversos, sendo usado o comprimido de 50mg, três vezes ao dia, para câncer metastático de próstata. O pessoal de Madrid tem publicado uma dose de 10mg a 50mg por dia para a alopecia de androgenética com resultado bastante interessante e bom perfil de segurança. Então, se tem um comprimido de 50mg, quebra-se, dando meio comprimido por dia, 25mg, o que está na média. Esta é uma boa opção, embora eu não tenha experiência suficiente para informar minha vivência com o assunto. Porém, teoricamente, se preenche um lugar muito interessante, com retorno não só para androgenética, mas também para o hirsutismo, seborreia, acne. 

FB – Quais são perspectivas quanto a tratamentos futuros para a alopecia? 

CS – Pois é, eu fico impressionado, como se investe nisso! Realmente, há muita demanda da população em geral. A parte cosmética do cabelo parece ser fundamental, vital para o ser humano, por conta dos pelos terem função importante de fotoproteção, de isolamento térmico, de sensibilidade. Fazer a moldura da cabeça é extremamente impactante para os indivíduos, para nossa sociedade, pelo menos nesse momento. Deste modo, está se investindo em fator de crescimento, plasma rico em plaquetas e engenharia genética futura. Existe muita procura de soluções definitivas. O que vejo é cultura de células tronco, de folículo da região central para ser transplantado. Há muita coisa, mas nada para agora. Estou um pouco desanimado também com tanto investimento só no visual. Claro que a gente tem que pensar sobre a importância deste aspecto, considerando que as pessoas querem ter aspecto que consideram ideal e que o cabelo tem importância fisiológica de proteção. Contudo, deve-se ter um limite também no quanto se investe nisso.
 


10 de junho de 2021 0

Para esclarecer dúvidas recorrentes a respeito da suplementação oral de colágeno e, desse modo, auxiliar os dermatologistas brasileiros a conseguirem melhores resultados no tratamento de seus pacientes, o Jornal da SBD convidou para um bate-papo aprofundado UMA referência no assunto: Lília Guadanhim, colaboradora da Unidade de Cosmiatria da Escola Paulista de Medicina, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).

Na conversa, a especialista discorreu sobre: diferença entre os tipos de colágeno disponíveis; doses diárias recomendadas; associação da suplementação para tratamentos reumatológicos e para a pele; uso em pacientes com doenças preexistentes; suplementação combinada de colágeno com vitaminas; entre outros tópicos.

Confira abaixo a entrevista na íntegra:

Jornal da SBD – Todos os colágenos são iguais ou existem diferenças em função do formato (cápsulas, pó e outros)? Existe uma opção mais indicada?
Lília Guadanhim – Quando o tema é colágeno, torna-se relevante sempre distinguir se estamos lidando com colágeno propriamente dito ou colágeno hidrolisado. O colágeno, em si, é uma molécula de alto peso, obtida a partir da gelatina. Em sua forma original, como colágeno não hidrolisado, ele tem 450 kilodaltons. Uma molécula com massa atômica que não consegue ser absorvida pelo organismo e, assim, não desempenha papel biológico. Costumo brincar: os pacientes que tomam colágeno não hidrolisado estão pagando caro para tomar gelatina. Para fins terapêuticos, é fundamental que primeiro ocorra o processo de hidrólise do colágeno, para sair dos 450 kilodaltons a um peso molecular que varia de três a seis kilodaltons. Nessa forma, sim, haverá peptídeos de colágeno, que conseguem ser bem absorvidos e desempenham papel biológico. Em relação à sua formulação, tanto faz se ele vem em forma de comprimido, balinha ou pó. A atenção deve estar voltada à dose. Os produtos que existem no mercado variam de 2,5g a 10g, o que é uma quantidade grande. É difícil conseguir colocar tudo isso em cápsula, por exemplo. Eu já ouvi depoimentos de pacientes que compraram colágeno fora do País e na embalagem a recomendação era tomar várias cápsulas ao dia, e eles não tomavam, por acharem excessivo. Isso é o que não pode. Tanto faz a forma de administração, desde que seja um produto com patente estudada e que o paciente respeite a prescrição indicada. É preciso saber qual é a característica de cada um dos produtos. Não necessariamente quanto mais, melhor.

Jornal da SBD – Uma dúvida frequente sobre o colágeno vem de pacientes que já usam o produto para tratamento das articulações. Se o paciente já utiliza esse tipo de colágeno, ele pode tomar também o colágeno para a pele?
LG – Sim. É possível fazer essa associação para pacientes que já usam o produto com foco no tratamento de articulações, ossos ou doenças reumatológicas. Essa associação não gera efeitos deletérios. É importante esclarecer que, quando o colágeno passa pelo processo de hidrólise, ele já pode gerar peptídeos com ação otimizada para pele, articulações e ossos. A partir daí, há formulações que direcionam efeitos mais específicos em algum dos tecidos. Só que não existe nada na literatura sobre benefícios de efeito cruzado. Mas, com base na minha experiência, acredito, sim, que os peptídeos usados com foco na saúde da pele também podem influenciar positivamente nas articulações, e vice-versa.

Jornal da SBD – Um grupo específico de pacientes cada vez maior é o de pessoas veganas. Existe algum colágeno que não seja de origem animal para atender esse público?
LG – Infelizmente, ainda não. O colágeno disponível no mercado é sempre obtido a partir de fonte animal. Vem da pele ou dos ossos de porcos, bois e peixes. No Brasil, há duas patentes principais e as origens são bovina e suína.   

Jornal da SBD – A partir de qual idade a reposição é recomendada?
LG – Essa é uma das dúvidas mais frequentes. Eu ancoro a recomendação com base na literatura médica. Apesar de sabermos que o processo de envelhecimento começa de forma mais intensa em torno dos 25 anos, em geral, as pesquisas disponíveis sobre a suplementação oral de colágeno avaliam a faixa etária de 35 até 65 anos. Num estudo específico, há a análise de um subgrupo mostrando que, talvez, existam melhores resultados em pacientes acima dos 50 anos. Mas só um estudo aponta isso. Desse modo, de 35 a 65 anos, é o período com respaldo. De todo modo, não há contraindicação se quisermos começar a suplementação em pacientes mais velhos.

Jornal da SBD – E por quanto tempo se mantém a suplementação?
LG – O processo de envelhecimento é contínuo. Mas ressalto: segundo os estudos disponíveis na literatura, os acompanhamentos dessa suplementação são de oito a 12 semanas. Seguimentos mais longos acompanham os pacientes por até seis meses. Por isso, minha indicação é em torno de ao menos 12 semanas, para conseguir avaliar a terapêutica. Se a resposta for satisfatória, mantemos por mais tempo.

Jornal da SBD – Existe algum risco para saúde? E restrição por interação medicamentosa?
LG – Esse é um cuidado relevante. O colágeno é considerado um suplemento alimentar sem contraindicação. Ele é seguro, uma vez que não contém gorduras, carboidratos, colesterol e possui baixo risco alergênico. Inclusive, o Food and Drug Administration (FDA, nos Estados Unidos) classifica o colágeno como um produto Generally Recognized as Safe (GRAS). Eles partem do princípio que a suplementação é segura. Não há problema fazer em pacientes com doenças reumatológicas, doenças renais, nada disso.

Jornal da SBD – A vitamina C ajuda na absorção? Há uma oferta considerável no mercado de produtos que associam o colágeno a outras vitaminas. Qual a recomendação?
LG – Precisamos observar esse ponto com atenção. Existe muito boato na internet e no boca a boca. A resposta científica é que a vitamina C é um fator importante para a síntese de colágenos, no entanto, a enorme maioria dos estudos só avalia a suplementação isolada de colágeno. Há pouquíssimas pesquisas que analisam essa suplementação combinada com outras vitaminas. Logo, não há na literatura essa recomendação. Além disso, sempre há o risco de hipervitaminose. Se fizer a reposição por um tempo maior, tem que estar atento a isso. Também precisamos lembrar que a suplementação de determinadas vitaminas em pacientes com predisposição a algumas doenças pode aumentar o risco de deflagração. Isso é válido para doenças cardiovasculares, alguns tumores. Por isso, é fundamental estar sendo acompanhado por um médico e avaliar a dose e o tempo.

Jornal da SBD – Em relação ao horário de uso do colágeno? Deve ser tomado em jejum?
LG – Quanto a esse ponto, não há recomendação técnica. Ele pode ser tomado depois do almoço, em jejum, tanto faz.

Jornal da SBD – Os pacientes que já fazem uso de outros procedimentos que estimulam a produção de colágeno têm melhores resultados se associam à sua terapêutica a suplementação oral?
LG – Racionalmente, faz todo sentido realizar um procedimento para estimular a produção de colágeno e associar a isso a suplementação oral. Há um estudo feito na Coréia, que avaliou esse resultado em oito pacientes submetidos ao laser fracionado não ablativo. Nessa pesquisa, o autor explica, inclusive, que no pós-procedimento de laser não ablativo os pacientes têm muita queixa de ressecamento e eritema. Logo, ele resolveu avaliar essa diferença entre quatro pacientes que receberam a suplementação, e outros quatro que não receberam. Ele introduziu a suplementação com peptídeos de colágeno duas semanas antes de realizar o procedimento e continuou duas semanas após. Apesar desse ter sido um estudo bem pequeno, a conclusão do autor é que a satisfação dos pacientes que receberam a suplementação foi bem maior e houve menores efeitos de ressecamento e eritema. Logo, essa associação faz sentido, mas ainda há poucos casos descritos. É um tema aberto.

Jornal da SBD – Como é realizada triagem de pacientes para iniciar a suplementação? Qual a expectativa do tratamento?
LG – A expectativa é algo fundamental a se alinhar com o paciente, antes de iniciar o processo. Há pacientes que se queixam de flacidez e celulites intensas no rosto. Nesses casos, a suplementação com colágeno hidrolisado não vai resolver o problema. Por isso, eu gosto de demonstrar pontualmente o que existe reportado em termos de evidências para cada patente disponível no mercado. A partir daí, chegamos a uma conclusão em conjunto. Os registros indicam melhora em cerca de 28% da hidratação e 9% da densidade do colágeno dérmico, além de redução de 30% na fragmentação desse colágeno. Também há publicações indicando aumento da elasticidade, em média 7; diminuição do volume de rugas na região periocular; e em um estudo específico, com viés de condução, mas que faz biópsia por sucção da região periocular, mostra 65% de aumento do pró-colágeno tipo 1 e aumento de 18% da elastina. Esses são os benefícios que podemos esperar, pensando em envelhecimento. Há ainda um estudo sobre celulite, que costumo citar, porque mostra redução de 11% do relevo da pele. Entre melhorar 11% e olhar no espelho e enxergar isso de forma objetiva existe uma lacuna. Por isso, realmente é preciso alinhar muito bem com o paciente as expectativas. Se ele estiver de acordo com as evidências descritas do benefício, a suplementação surge, então. como opção.

 


3 de fevereiro de 2020 0

JSBD – Ano 23 – N.06 – 01 – DEZEMBRO-FEVEREIRO

Exemplos de mães que se inspiram em seus filhos para realizar projetos diversos não faltam. Mas quando o que impulsiona esse projeto é um problema de saúde, a história toma contornos diferentes. Esse é o caso de Tatiane Santos de Oliveira, mãe de Maria Luiza, que recebeu o diagnóstico de vitiligo aos três anos – hoje ela tem oito. Autora de A menina feita de nuvens, que narra o cotidiano de uma menina que tem manchinhas nos olhos – chamadas de nuvens – e poderes especiais, Tatiane escreveu o livro para ajudar a filha e outras crianças que passam pela doença a se sentir representadas com sensibilidade, poesia e alegria. “Quando tivemos o diagnóstico, procurei um livro voltado para o público infantil que falasse sobre o vitiligo e a perda de pigmentação em várias partes do corpo de forma lúdica, mas não encontrei. Então, como sou designer e trabalho com livros, resolvi fazer um conto para a minha filha se sentir representada. Fiz as ilustrações, o texto e montei tudo. Inicialmente, a ideia era imprimir em uma gráfica rápida só para ela, mas, conforme eu mostrava o arquivo para meus amigos, o retorno era tão positivo, que resolvi tentar publicar”. Lançado pela editora Estrela Cultural, a publicação tem ajudado outras famílias a reescrever a história dessas crianças “com nuvens”, fazendo-as se olharem com mais carinho e empatia para com sua condição.

A seguir, Tatiane nos relata o processo de descoberta do vitiligo, de como foi contar para a filha sobre sua nova realidade e como o atendimento diferenciado por parte do médico que atendeu a menina fez toda a diferença na forma como a família lidou com o tratamento. Quem quiser conhecer o Instagram dela, o perfil é o: @ameninafeitadenuvens

SBD: Quando começaram a aparecer as primeiras manchas, você já procurou um médico ou achou que pudesse ser outra coisa? E como foi esse primeiro contato com o especialista?
Tatiane: As primeiras manchinhas apareceram quando ela tinha três anos. No começo achava que eram marquinhas de machucado, mas quando percebi que estavam aumentando procurei um dermatologista. Não senti confiança logo de cara, especialmente quando deu sua opinião parecendo estar com pena de minha filha. Então, resolvi pesquisar outros médicos até que encontrei o que a acompanhou durante todo o processo.

SBD: Como foi descobrir que sua filha tinha vitiligo aos três anos? O que sentiu ao ouvir o diagnóstico?
Tatiane: Eu fiquei muito assustada, não sabia muito a respeito, e fiz algumas pesquisas que só assustavam ainda mais. As frases "não tem cura", "pode causar depressão", “pode causar problemas com autoestima" e mais um monte de informações ficaram assombrando minha cabeça. Até que cheguei a um especialista da Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro, o Dr. Paulo Luzio Marques, que foi quem acalmou meu coração, e iniciamos um tratamento.

SBD: Durante todo o processo até chegar ao diagnóstico final, quais foram os momentos mais angustiantes e por quê?
Tatiane: Foram os comentários das pessoas do nosso convívio e ao nosso redor. Muitos falavam do vitiligo como se fosse uma doença terminal, algo muito negativo. Era assim toda vez que eu contava sobre as manchinhas da Maria Luiza. E isso começou a nos incomodar. As reações eram exageradas, como se fosse o fim do mundo, mas eu sabia que não era. E novamente o médico que a atendia teve papel fundamental em nos acalmar e explicar que não era verdade o que ouvíamos a todo instante.

SBD: E como foi explicar esse diagnóstico para sua filha, já que era tão novinha? Ela compreendeu?
Tatiane: Eu expliquei que ela tinha uma doença de pele, que tinha um desenho especial. Como ela era muito novinha, tentei fazer tudo mais leve e lúdico para ela entender o motivo de passar as pomadinhas. E fizemos uma espécie de "tratamento alternativo", que consistia em elogiar sempre cada manchinha, procurar formatos divertidos, contornar com canetinha e ficou tudo mais divertido e leve. E assim ela se sentia especial. O médico dela também não escondia nada dela e explicava cada questionamento que ela fazia, sempre de forma firme, mas gentil.

SBD: Hoje ela já é maior e tem mais compreensão sobre o vitiligo? Ela encara bem ou questiona?
Tatiane: Hoje ela tem oito anos e pediu para parar o tratamento, mesmo com ele surtindo efeito. Ela não quer mais, não quer perder suas nuvenzinhas. Acho que isso diz muito sobre sua autoestima e a imagem empoderada que tem de si. E além de conversarmos em casa sobre o assunto, sempre de forma natural e sem vitimismos, a relação que ela criou com o médico dela também gerou essa confiança em si mesma.

SBD: Como foi o acompanhamento médico nesse período?
Tatiane: Com quase dois anos de tratamento, apareceram resultados positivos. Algumas áreas conseguimos pigmentar. Mas, mesmo com todo o carinho e a atenção do médico, ela resolveu interromper o tratamento. Se será algo momentâneo ou não eu não sei, mas acho que essa vontade diz muito sobre a aceitação dela em relação ao vitiligo.

SBD: Crianças, por vezes, são cruéis. Como sua filha reage a possíveis bullyings? Ela enfrenta bem o problema?
Tatiane: Por causa do nosso livro, eu fiz um escudo de proteção a nossa volta, e ela é vista com admiração. Na escola, foi trabalhado o livro com os coleguinhas. Com a família e os amigos, todos sabem da condição dela. Para se ter uma ideia de como avançamos com o livro, alguns amiguinhos até querem ter vitiligo e brincam que as marquinhas de machucado são as manchinhas da pele. Mas é importante lembrar que, quando a informação não chega até os locais que ela frequenta, recebe muitos olhares curiosos. Porém, parte dela mesma dizer que é feita de nuvens.

SBD: Na sua visão, qual é a importância do atendimento humanizado, e como ele pode mudar a percepção do paciente sobre a doença ou problema que esteja enfrentando. Você recebeu esse atendimento acolhedor durante esse processo com sua filha?
Tatiane: Eu acho fundamental que médicos saibam que a maneira que vão passar o diagnóstico faz toda a diferença para o paciente. Alguns passam a informação como se fosse uma sentença de morte, como se fosse acabar a vida da pessoa. O acolhimento é o melhor caminho e é preciso enfatizar como é fundamental falar com cuidado e carinho. Quem escuta, no caso o paciente, está cheio de dúvidas e medo. E o médico precisa entender isso. Antes de iniciar o tratamento, o médico conversou bastante com minha filha, explicou delicadamente o que ela tinha e tirou muitas dúvidas sobre a doença, sempre com bastante humanidade. Acho que é esta, aliás, a melhor palavra para definir como foi esse atendimento: humanizado.
 

SBD: Se pudesse compartilhar com a sociedade médica suas impressões ao longo desse caminho, do tratamento de sua filha, o que diria?
Tatiane: Eu diria aos médicos que o conhecimento que detêm é tão fundamental como a maneira que passarão isso para as famílias. Quando somos pegos de surpresa por algo que aparentemente não está bem na saúde de um familiar, especialmente quando falamos dos nossos filhos, precisamos, literalmente, daquele ombro amigo que vai entender que tudo é muito novo e que essa nova condição precisa ser compreendida pelas pessoas da família. Além disso, seria importante algum tipo de solicitação das sociedades médicas ao Ministério da Saúde para que mais informações sobre a doença fossem veiculadas nos meios de comunicação, nas escolas, em todos os lugares. Percebo que o motivo de bullyings, muitas vezes, é a falta de informação das pessoas e, por isso também, acho que deveria haver um calendário oficial na saúde para falar sobre vitiligo, como acontece em algumas cidades, como Piracicaba e Bragança Paulista, que têm campanhas específicas sobre a doença para toda a população. A SBD faz campanhas de conscientização anuais em junho. Mas é preciso, ainda, explicar claramente que o vitiligo não é contagioso, pois há muito preconceito não apenas com a aparência de quem tem, mas também pelo fato de muitos acreditarem que podem “pegar”.

 


6 de agosto de 2019 0

JSBD – Ano 23 – N.03 – 04

Sinésio Talhari, editor chefe ABD

Em junho, o Journal Citation Reports aumentou o fator de impacto dos Anais Brasileiros de Dermatologia de 0,884 para 1.050. Com o resultado, a publicação melhorou quatro colocações no ranking mundial, passando para a 56a posição e fortalecendo a produção científica dermatológica do país. Para falar sobre o assunto, o JSBD convidou o editor chefe da publicação, Sinésio Talhari. Leia a entrevista a seguir.

A que atribui esse aumento do FI? Precisão científica? Rápida avaliação dos trabalhos, bem como sua relevância e originalidade? Revisão por pares?

Desde a indexação dos ABD, há aproximadamente 10 anos, todos os editores sempre trabalharam no sentido de a revista melhorar a qualidade de suas publicações, adotando critérios rigorosos para a aceitação de trabalhos e estimulando os profissionais das diversas áreas dermatológicas para a submissão de originais relacionados a pesquisas, artigos relevantes de revisão e educação médica continuada, entre outros.  

Nos últimos dois anos criamos novas seções e suprimimos outras, acompanhando a evolução das principais revistas dermatológicas internacionais. Entre as mudanças destacamos as seções voltadas para as doenças tropicais/infecciosas, carta pesquisa, aumento do número de casos para Qual o seu diagnóstico?, e carta ao editor. Reduzimos o número de casos clínicos, só aceitando aqueles de especial relevância para o aprendizado. Também reduzimos o número de publicações – a revista ficou mais condensada.

As modificações acima mencionadas, acreditamos, foram decisivas para o aumento do fator de impacto e, mais recentemente, a reclassificação da revista pela Capes – somos Qualis B2. Éramos B3. Aumento do Qualis significa mais respeitabilidade e pontuação dos trabalhos publicados.

Artigos originais recebem mais citação seguidos dos de revisão?

Sim, pelo fato de termos menor fator de impacto e sermos B3, temos recebido pequeno número de artigos inéditos, de pesquisa. Essa foi uma das principais razões para criarmos a seção de dermatologia tropical/infecciosas. Esse é um nicho em que podemos ser mais fortes em comparação com outras revistas. Além disso, estimulamos os profissionais a ficar mais atentos para essas enfermidades, a maioria negligenciada e, em muitos serviços dermatológicos de nosso país, praticamente abandonada no ensino de graduação, residência médica e pós-graduação. Por exemplo, são pouquíssimos os serviços que diagnosticam, tratam e acompanham pacientes com hanseníase. As DST/Aids, leishmanioses e outras doenças cutâneas de relevância na saúde pública não têm merecido a devida atenção no dia a dia do ensino da dermatologia. Investigar nessas áreas e publicar nos ABD certamente tornarão a revista mais visível e respeitada no universo dermatológico.

O que pode ser feito fazer para que o FI da revista aumente ainda mais, assim como o número de citações?

Além do que mencionamos acima, temos enorme potencial de publicar em outras áreas do conhecimento dermatológico. É preciso que os ABD façam parte do grupo das revistas importantes na hora de os autores fazerem a escolha para submeter seus artigos. Infelizmente, ainda não somos lembrados na hora da escolha dos bons periódicos para enviar os melhores trabalhos. É importante mencionar que, além de todas as mudanças realizadas e das conquistas obtidas até agora, teremos ainda maior visibilidade, pois, migramos para a Editora Elsevier. Teremos ahead of print, os artigos terão visibilidade similar à oferecida pelas principais revistas dermatológicas.

Qual é a importância da produção científica em dermatologia no país?
Além da respeitabilidade que os dermatologistas brasileiros merecem, é importante ressaltar que a qualidade de tudo que publicamos refletirá no melhor conhecimento dermatológico dos profissionais e, claro, nossos pacientes serão os principais beneficiados.

 





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