A relação entre a vacinação contra a febre amarela e a dermatologia
Ana Luisa B. Sampaio Jeunon Vargas e João Carlos Regazzi Avelleira
A vacina contra febre amarela é a medida mais importante para prevenção e controle da doença em territórios com circulação comprovada do vírus. Desde que bem indicada, o risco de desenvolver a forma grave da doença supera os efeitos colaterais da vacina. Assim, todo médico deve estar ciente das suas indicações e contra-indicações.
Deve ser reforçado o uso de medidas de proteção como telas e mosquiteiros, uso de repelentes (por cima do protetor solar), ar-condicionado e roupas adequadas nestas áreas. Não é recomendado usar perfumes durante caminhadas em matas silvestres (podem atrair mosquitos).
1) Quem deve tomar a vacina
Indivíduos entre 9 meses e 60 anos de idade que não possuam as contraindicações abaixo.
2) Quem não deve tomar a vacina
– Hipersensibilidade grave a ovo, gelatina, eritromicina e canamicina
– Crianças menores de 9 meses (a vacina está indicada entre 6 meses e 9 meses se situação de emergência epidemiológica ou viagem para área de risco)
– Idosos maiores de 60 anos (depende de avaliação médica)
– Grávidas e lactantes (avaliar caso a caso. Se lactante de crianças de até 6 meses de idade, suspender o aleitamento materno por 28 dias a partir da administração da vacina)
– Portadores de imunodepressão grave (por doença ou uso de droga imunossupressora)
– HIV sintomático ou CD4<200cel/mm3, neoplasia fazendo quimioterapia ou radioterapia, pós-transplantados, pacientes com doenças do timo (miastenia gravis) e doenças desmielinizantes.
– Doenças autoimunes que podem cursar com imunossupressão devem ser considerados individualmente.
3) Quais são os efeitos adversos?
– Efeitos adversos graves
– Risco de reação alérgica grave (anaflaxia): 1:131.000 doses aplicadas
– Risco de desenvolver a doença neurotrópica (YEL-AND) é de 1:150.000-250.000 doses (reação de hipersensibilidade, com encefalite, meningite, mielite, síndrome de Guillain-Barré)
– Doença viscerotrópica (YEL-AVD): risco de 1:200.000-300.000 doses. Se maiores de 60 anos 1:40.000-50.000 doses. Com mortalidade de 60%.
Efeitos adversos mais frequentes
– Reação no local da vacina: eritema, induração, dor (4%)
– Cefaleia, febre, mialgias (4%)
4) Eficácia da vacina
Produzida no Brasil e utilizada desde 1937 a vacina apresenta eficácia superior a 90%. No Brasil, a partir de abril de 2017, a recomendação passa a seguir a OMS, que considera devidamente imunizados por toda a vida os indivíduos tomaram apenas uma dose da vacina.
5) Dose fracionada
O Ministério de Saúde iniciará a administração da dose fracionada da vacina para pessoas entre 2 e 60 anos de idade. Assim, cada frasco de 5ml será utilizado para vacinar 4 pessoas. Segundo a Bio-Manguinhos, a dose fracionada é equivalente a uma dose padrão em eficácia (produção de anticorpos). A imunização é comprovada por no mínimo 8 anos. A necessidade de revacinação de quem tomou a dose fracionada será determinada pelo Ministério da Saúde. Quem tomar a dose fracionada terá em seu cartão de vacinação esta informação. Crianças entre 9 meses e 2 anos, gestantes em situações bem específicas e viajantes internacionais continuarão tomando a dose padrão, pois a dose fracionada não é aceita para emissão do Certificado Internacional de Vacinação e Profilaxia (CIVP).
A vacina é de vírus vivo atenuado e leva a imunização em 7 dias, sendo considerado o prazo padrão de 10 dias para que o indivíduo esteja imunizado.
OBS: Após 2 a 4 semanas ainda poderá haver replicação viral. Portanto, em pacientes que necessitem o uso de drogas imunossupressoras, o retorno da medicação deve ser avaliado pela possibilidade do aumento do risco de aparecimento de doença viscerotrópica.
5) Como proceder em pacientes que usam medicação imunossupressora que necessitem vacinação?
Quando a vacinação é necessária, existe discussão de quantos dias antes da vacinação deve-se parar o medicamento.
As recomendações que orientam a interrupção da medicação sugerem períodos correspondentes de 4 a 5 meias-vidas da droga.
apesar de o metotrexate na dose comumente utilizada para tratamento das dermatoses não contraindicar vacinação para a febre amarela, pode haver menor taxa de imunização deste indivíduo.
É recomendado que o paciente somente retorne ao uso de medicamentos imunossupressores após 4 semanas da vacinação.
considerações para pacientes em uso de medicamentos imunossupressores: vide tabela.
Tabela: Medicamentos usados na dermatologia e quanto tempo antes da vacinação com vírus vivo atenuado devem ser suspensos
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Obs: antimaláricos, isotretinoina e acitretina – não são contraindicação para vacinação.
Referências Bibliográficas:
1- http://www.cva.ufrj.br/informacao/vacinas/fam-v.html
2 – Oliveira ACV et al. Rev Bras Reumatol 2013;53(2):206-10.
3 – Wine-Lee et al. J Am Acad Dermatol 2013;69:1003-13.
4 – adaptado de: Calendario de Vacinação Paciente Especiais/SBIm/2015-2016.
5- wwwnc.cdc.gov (Yellow Book/TravelersHealth chapter 8,2016.)
6 – https://www.infectologia.org.br/pg/1233/informativo-sobre-febre-amarela
8- de Wolf ACMT, van Aalst S, Ludwig IS, Bodinham CL, Lewis DJ, van der Zee R, et al. (2017) Regulatory T cell frequencies and phenotypes following anti-viral vaccination.PLoSONE 12(6): e0179942.
9- bula da vacina – FIOCRUZ / Bio-Manguinhos
10- Febre amarela – guia para profissionais de saúde. Ministerio da Saude 2017.