A maquiagem na pele acneica
JSBD – Ano 23 – N.06 – 01 – DEZEMBRO-FEVEREIRO
Segundo a pesquisa Perfil das Consultas Dermatológicas, realizada pela própria Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD) em 2018, a acne é o principal motivo que leva a consultas dermatológicas. Os dados não foram exatamente uma surpresa na época, levando-se em conta que as pessoas tendem a procurar tratamento com mais agilidade quando o problema afeta diretamente a aparência, como é o caso da acne.
A médica dermatologista da SBD e chefe do Serviço de Dermatologia do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Marcia Ramos-e-Silva, explica que a acne é uma condição bastante comum não só no Brasil, mas em todo o mundo, e é na adolescência que se apresenta de forma mais aguda, atingindo entre 79 e 95% da população dessa faixa etária. Pode, porém, acometer também adultos, especialmente mulheres entre 25 e 40 anos. “Estima-se que haja mais de 16 milhões de brasileiras portadoras dessa condição, na proporção de quatro mulheres afetadas para cada homem. Atinge também todas as raças, apesar de parecer mais frequentes nos brancos”, esclarece.
É o caso da jornalista Alice Santos, de 38 anos. Quando mais nova, não costumava ter espinhas no rosto, mas com o tempo começou a apresentar pequenas bolinhas que logo foram diagnosticadas por sua dermatologista como acne. “Achei estranho porque normalmente associamos espinhas, cravos e o inchaço característico à adolescência, e nesse período minha pele era boa. Quando minha médica falou sobre acne, a primeira preocupação foi com a maquiagem, pois apesar de não usar nada pesado, gosto de passar pó para evitar o brilho e blush para dar cor. Mas fiquei preocupada com a questão de tampar os poros da pele, e ela logo me tranquilizou sobre isso”, conta.
E realmente não há problema no uso de maquiagem nos indivíduos que apresentem acne, basta que o produto não seja comedogênico e seja livre de óleo. “Além disso, a maquiagem pode estar associado a alguma substância para ao mesmo tempo tratar a acne, como substâncias secativas: ácido salicílico, entre outros”, pontua Marcia.
Embora não exista contraindicação para o uso de maquiagens por quem tem acne, é importante alertar que a não proibição deve caminhar junto com o tratamento adequado. Ou seja, uma rotina diária de cuidados com a pele é fundamental para a resolução do quadro. “O primeiro e muito importante passo é uma limpeza correta pela manhã e à noite, com o uso de produtos adequados para a pele acneica. Os produtos específicos, sejam eles orais ou tópicos, em geral, só funcionarão com a associação desta limpeza apropriada”, enfatiza a médica.
Ela salienta que atualmente há tratamentos bastante eficientes para melhorar a condição. “Quando comecei na dermatologia, os casos graves inexoravelmente caminhavam para cicatrizes inestéticas, mesmo com os tratamentos disponíveis naquela época, e isso não acontece mais desde o advento dos retinoides”.
No entanto, a médica lembra que os médicos devem ficar atentos na escolha da medicação correta para cada caso. “Devem ser avaliados localização, intensidade, frequência de aparecimento das lesões, sexo e idade do paciente, entre outros aspectos, e o uso de procedimentos e limpezas adjuvantes. Isso nos permite resolver e/ou melhorar muito todos os pacientes que usam as medicações corretamente”, comenta.