Em nove anos, Pará registrou 31 mil casos de hanseníase
Oficializada em 2016 pelo Ministério da Saúde, a Campanha Janeiro Roxo busca em mais um melhorar o controle da hanseníase e conscientizar a população sobre a gravidade da doença, a importância do diagnóstico precoce e do tratamento imediato. Por muito tempo, a enfermidade causada pela bactéria Mycobacterium leprae ou bacilo de Hansen foi conhecida como lepra, causando grande estigma e preconceito que até hoje dificultam o tratamento e o combate de sua disseminação. Segundo um estudo divulgado pela Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), os números da doença cresceram em todo país na última década, com destaque para o Pará, que passou a ocupar o terceiro lugar no ranking dos estados com maiores registros.
De todos os novos casos registrados na população geral pelo Sistema de Informação de Agravos e Notificação (Sinan), do Ministério da Saúde, um terço se concentra apenas no Pará, o que corresponde a 31.611 pacientes diagnosticados entre 2010 e 2019. Segundo o médico e assessor do Departamento de Hanseníase da SBD, Mauricio Lisboa, um dos motivos desse aumento nos números está relacionado às péssimas condições de habitação.
"O Pará é um estado historicamente endêmico para hanseníase, e vem registrando muitos casos desde o século passado. Há outras áreas que historicamente também são endêmicas. Geralmente são aquelas que houve movimentos migratórios importantes, como é o caso do Pará, desde o ciclo da borracha e mineração. Esses movimentos atraem um grande número de pessoas que são acomodadas de formas inadequadas, formando aglomerados populacionais sem infraestrutura, facilitando assim a transmissão da hanseníase",explica.
Mesmo com grandes avanços nos estudos e tratamento da doença, o assessor do SBD diz que ainda há lacunas a serem preenchidas. "Apesar dessa bactéria ser conhecida há maisde 100 anos, o tratamento que usamos hoje ainda é o mesmo introduzido há 50 anos. Por exemplo, também ainda não temos um teste laboratorial que auxilie nesse
diagnóstico de pacientes. Há inclusive uma carência de estudos que suportem novas drogas, e de políticas de saúde que expandam o arsenal terapêutico", observa.
CONTROLE
Embora a hanseníase seja uma doença que tem cura, ela precisa ser tratada de maneira precoce para evitar possíveis sequelas no futuro. "A doença surge como lesões de pele, algumas mais localizadas que lembram micoses, impinges ou com lesões mais difusas contendo nódulos em partes do corpo. Outra característica muito peculiar da hanseníase é a dormência. Então, essas sensações de choques nas mãos e pés, agulhadas e dormências são indicativas de um possível diagnóstico de hanseníase", ressalta Maurício.
Mesmo com os percentuais elevados, o SBD prevê ainda o aumento de casos de hanseniase nos próximos anos, especialmente pela falta de diagnósticos em 2020.
"A hanseníase é uma doença silenciosa e com poucos sinais e sintomas. As campanhas de diagnóstico que geralmente são feitas em escolas ou na comunidade, os exames familiares e campanhas educativas precisaram ser suspensos por causa da pandemia da Covid-19. Com isso. temos certeza de que muitos casos perderam a chance de serem diagnosticados nesse último ano e com a doença avançando", finaliza.
PRIMEIRO DIAGNÓSTICO
1873 foi o ano da descoberta da hanseníase, que é uma das enfermldades mals antigas que acometem a humanidade, com registros de casos da doença há mais de quatro mil anos.
Fonte: Diário do Pará