Recanto das Araras recebe equipe de dermatologistas para atendimento aos portadores de xeroderma pigmentoso
JSBD – Ano 23 – N.05
Pela quarta vez, a Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD) capitaneou ação social que levou atendimento dermatológico aos moradores do povoado do Recanto das Araras, no noroeste de Goiás. Doze dermatologistas realizaram dezenas de consultas, exames e cirurgias em portadores de xeroderma pigmentoso (XP), doença de origem genética, rara e de tratamento complexo. A expedição, que é realizada a cada dois anos desde 2015, fez parte das comemorações pelo Dia do Médico (18 de outubro) e contou com a parceria da La Roche Posay.
“A medicina deve ser sempre humanizada, e a dermatologia tem essa característica. É importantíssimo esse cuidado e o acolhimento do paciente. O trabalho da dermatologia nesse povoado tem sido muito gratificante. É um crescimento pessoal imenso e uma experiência riquíssima que eu vou levar para a vida toda”, declarou o presidente da SBD, Sergio Palma.
Para o atendimento e retirada de tumores com maior precisão, foi levado até o local um caminhão com consultórios e salas de cirurgia com equipamentos de alta tecnologia, como microscopia confocal e fotofinder, além de dermatoscópios. Dezesseis pessoas foram atendidas e realizadas doze cirurgias, com a retirada de 40 tumores (32 cânceres de pele carcinoma basocelular e oito cânceres de pele melanoma) em decorrência da doença. Outros doze pacientes, ainda sem diagnóstico de XP, também passaram por cirurgias com a remoção de dezesseis lesões de câncer de pele (todos do tipo carcinoma basocelular). Os testes genéticos já realizados na comunidade identificaram 85 moradores com o gene modificado que pode causar o xeroderma pigmentoso, sendo que 23 já têm a manifestação da doença.
“O resultado foi excelente. Fizemos muitos diagnósticos e conseguimos tratar muitas lesões. A sensação é de que esse esforço precisa continuar. Essa comunidade não pode ficar desassistida. No que depender da SBD, essas ações devem ser mantidas e aprimoradas para trazer novos benefícios para essa população”, disse a secretária-geral da SBD, Cláudia Carvalho Alcântara Gomes.
Por ser rara e pouco conhecida, a cada mutirão as amostras dos tumores retirados dos pacientes são colhidas para análise no Laboratório de Reparo de DNA do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade de São Paulo (USP), que tem aprofundado os estudos sobre a doença, como explicou a geneticista Juliana Vilar, que também fez parte da equipe.
Parceiros − Nessa edição, novos parceiros institucionais se agregaram à iniciativa, num total de 15 instituições. Por exemplo, o laboratório de Métodos de Extração e Separação do Instituto de Química, da Universidade Federal de Goiás, colheu amostras para um trabalho que realiza com o objetivo de desenvolver técnicas para o diagnóstico simplificado do câncer.
Ao avaliar a iniciativa, a primeira secretária da SBD, Flávia Vasques Bittencourt, ressaltou a importância do trabalho realizado pelas dermatologistas de Goiás que dão assistência contínua aos pacientes de Araras. As especialistas Fernanda Rocha Lima, Ana Maria Ribeiro e Larissa Pimentel trabalham muito para que a comunidade tenha a orientação necessária no tratamento da doença.
“São profissionais comprometidas com o atendimento dessa população. Graças ao empenho de cada uma, que rodam centenas de quilômetros todos os meses e nem sempre contam com as condições adequadas para exercer seu papel, que os moradores dessa comunidade têm acesso ao cuidado especializado. Elas são um exemplo do compromisso do dermatologista com a saúde pública”, disse Flávia Bittencourt.
Com o apoio dessas três especialistas goianas, o trabalho foi conduzido com o reforço de médicos que vieram de Recife (PE), Belo Horizonte (MG), Vitória (ES), São Paulo (SP) e Rio de Janeiro (RS). Também contribuíram os dermatologistas Carlos Barcaui (coordenador do Departamento de Imagem da SBD), Joaquim José Teixeira de Mesquita Filho (coordenador do Departamento de Cirurgia da SBD) e a dermatologista Vanessa Mussupapo.
Especialidades − Além do atendimento dermatológico, a expedição possibilitou aos moradores o acesso a médicos de outras especialidades, como oftalmologia, e até assistência jurídica e apoio psicológico. Houve a distribuição de kits com filtro solar e outros dermocosméticos, bem como palestras sobre aconselhamento genético para que os jovens, entre outros cuidados com o XP, se casem com mais segurança.
“É fundamental esse relacionamento entre o médico e o paciente. A dermatologia está em várias áreas de atuação. A estética, por exemplo, é importante, mas não pode ser mais importante do que o cuidado e a prevenção das doenças, principalmente as que são estigmatizantes. Isso aqui para mim tem sido uma lição de vida para que possamos tomar como exemplo e aplicar em outros momentos”, afirmou o vice-presidente da SBD, Mauro Yoshiaki Enokihara.
Para os especialistas, mutirões de saúde como o de Araras melhoram a qualidade de vida dos moradores e também enriquecem a experiência de vida dos participantes. É o que pensa Leonardo Mello Freire, secretário da SBD. “Sempre ajudamos, ensinamos e aprendemos. Há muitas pessoas que precisam de ações como essa. Ao participar de algum tipo de ação, como essa, em Araras, conseguimos fazer alguma diferença e acabamos aprendendo muito também”.
É assim que pensa também Sulamita Chaibub – a dermatologista que diagnosticou o primeiro paciente com XP em Araras –, que, mesmo aposentada, fez questão de acompanhar de perto a missão local de combate ao câncer. Segundo ressaltou, “esse time atingiu, mais uma vez, seu objetivo de assistência médica e social com excelência”.
Com envolvimento de vários anos nesse trabalho, Sulamita é reconhecida pela especialidade por sua dedicação à causa. Contudo, ela compartilha com os participantes da missão essa gratidão: “a generosidade demonstrada pelos estimados colegas é comovente, deixando nítida a escolha pela prática médica. Vocês abdicaram de seu precioso tempo no conforto de seus consultórios, de sua casa e da presença de seus familiares para olhar e cuidar daqueles que sofrem com essa doença. Ela não perdoa e mutila seus portadores cada vez mais. A sensibilidade humana do médico foi demonstrada por vocês no atendimento, no diagnóstico, na cirurgia e na discussão científica”.