Estamos preparados para a longevidade?



Estamos preparados para a longevidade?

1 de setembro de 2018 0


Luis Fernando Correia, Márcia Gerbara, Ana Lúcia Azevedo, Antonio Tadeu e José Antonio Sanches na mesa "Estamos Envelhecendo"Fabio Cordeiro

Eles estão na categoria “prioridade da prioridade”. Ganharam preferência na fila preferencial. Agora, os octogenários querem ganhar seu lugar ao sol. Trocaram as cadeiras de balanço pelas dos cinemas e teatros. As bengalas pelos smartphones. E o pó de arroz deu lugar ao protetor solar. De acordo com o IBGE, no estado do Rio há 305 mil pessoas com 80 anos ou mais. Em São Paulo, 668 mil. E em todo o país, chegam a 3 milhões. Trata-se de uma faixa etária da população que cresce em velocidade impressionante, trazendo desafios aos setores de saúde, habitação, transporte e previdenciário. Enquanto as políticas públicas engatinham, a ciência avança a passos largos na compreensão das causas do envelhecimento. A medicina evoluiu, nos deu anos de vida, mas a sociedade está preparada para a longevidade? O assunto foi tema do seminário “Envelhecendo Além das Rugas”, que aconteceu no auditório do GLOBO, no Rio, no último dia 21.

O evento, realizado em parceria com a Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), reuniu especialistas num debate sobre a beleza do envelhecimento saudável e o desafio da construção de políticas públicas que proporcionem à população mais anos de vida com qualidade.

“A vida era uma corrida de cem metros. Agora, é uma maratona”, resumiu o médico Alexandre Kalache, que dirigiu o programa de envelhecimento da Organização Mundial da Saúde (OMS) de 1995 a 2008 e hoje é presidente do Centro Internacional de Longevidade Brasil e da Aliança Global de International Longevity Centre. A tal maratona está prestes a transformar o Brasil, um país obcecado pela juventude e pela beleza, numa nação de idosos.

“O envelhecimento populacional é irreversível. Em 2060, teremos 58 milhões de idosos. E isso impacta na saúde, na previdência social, mas pouco se fala dos cuidados com essas pessoas. Não apenas quanto à vida saudável, mas também da interação social”, diz Antonio Tadeu, pesquisador do IBGE.


Rosamaria Murtinho só começou a cuidar da pele aos 60 anos – Fabio Cordeiro

Kalache dividiu com a plateia o seu mantra: Quanto mais cedo, melhor, mas nunca é tarde demais. “Não se cuidou aos 20? Começa aos 30. Não se cuidou aos 30, começa aos 50. Não foi aos 50, começa aos 80. Porque sempre haverá ganhos, mas quanto mais cedo começar, melhor. Isso vale para nós individualmente e também para o governo e o Congresso. Se não começaram a se preparar para o envelhecimento da população, que comecem agora”, defende ele.

É o que Márcia Gebara, coordenadora da Secretaria Nacional da Pessoa Idosa, ligada ao Ministério dos Direitos Humanos, garante estar acontecendo em Brasília. “Estamos começando a trabalhar muito fortemente no Ministério dos Direitos Humanos numa política de cuidados”, afirmou ela.

Para o presidente da SBD, José Antônio Sanches, o envelhecimento da população traz um universo novo também para a medicina. “A dermatologia evoluiu muito no sentido de minimizar os efeitos do envelhecimento através da cosmiatria. Hoje, com procedimentos muito menos invasivos, conseguimos manter um aspecto jovial. Mas a pele é um órgão que nos defende das agressões do meio ambiente. Por isso, temos que cuidar dela muito além das rugas”, destaca. Sanches frisa que, cada vez mais, idosos estarão chegando aos consultórios, com demandas específicas. “A questão fundamental é envelhecer com o máximo de graça e saúde possível. A gente vai ficando um repositório de saber, de conhecimento, de história”.

E histórias para contar não faltam à atriz Rosamaria Murtinho. Aos 82 anos, ela contagia a todos com seu alto astral e elevada autoestima. “Comecei a me cuidar aos 60 anos. Eu fazia teatro e chegava em casa tarde da noite e só lavava o rosto no outro dia de manhã. Uma loucura. Ter uma boa autoestima é importante. Há coisas que ainda posso fazer, outras que não. Mas isso não deve ser um problema”, diz ela, que está em cartaz no teatro com a peça Isaura Garcia.

O médico Renato Veras, diretor da Universidade Aberta da Terceira Idade (Unati), da Uerj, concorda que a autoestima é um ponto fundamental na cartilha da longevidade, que inclui ainda dieta saudável e colorida, atividades físicas, evitar o álcool, não fumar e aprender a lidar com o estresse. “Mas você não precisa seguir a cartilha de estilo de vida para ser perfeito. A questão é saber como usufruir das coisas boas da vida, sem prejudicar a saúde”, explica.

Já o dermatologista Luiz Gameiro, da SBD, acrescenta à cartilha a proteção contra o sol desde a infância para se chegar à terceira idade com a pele bonita: “A pele começa a envelhecer quando nascemos, e o sol é o principal agente externo que interfere nesse processo. Manchas, rugas, sinais de aspereza são muito mais relacionados ao envelhecimento extrínseco, ou seja, causado por cigarro, radiação ultravioleta e poluição atmosférica”, ensina.

Os excessos praticados pela indústria da beleza também foram abordados no seminário. “Devemos orientar o paciente a evitar exageros e a busca desenfreada pela juventude. Podemos trabalhar de forma correta na recuperação da autoestima. Para isso, podemos lançar mão de cosmecêuticos, medicamentos e um grande arsenal, que vai da toxina botulínica aos preenchedores, dos peelings aos lasers e outras tecnologias”, destacou o vice-presidente da SBD, Sérgio Palma.


Carlinhos de Jesus comanda a Macarena ao final do evento – Fabio Cordeiro

O médico Luis Fernando Correia, comentarista de saúde da rádio CBN e da TV Globo, ressalta que equilíbrio é a palavra-chave para o envelhecimento saudável. A exceção fica com o item alegria. Aos 65 anos, esbanjando energia, o dançarino Carlinhos de Jesus fala que não há idade para começar a requebrar as cadeiras. “Se não posso mais dançar rock fazendo cabide, jogando a parceira para cima, posso balançar os quadris ou o ombro. Dançar queima calorias, libera endorfina e serotonina, melhora a hidratação da pele, a respiração, a circulação e o equilíbrio e previne doenças articulares”, destaca.

Como diz o mantra de Kalache, nunca é tarde para começar. Mãos à obra! Ou melhor, mãos nas cadeiras! Ao final do encontro, Carlinhos de Jesus fez a plateia dançar a Macarena.

Por: Sociedade Brasileira de Dermatologia – Publicado na Revista Época.





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