A relação entre a vacinação contra a febre amarela e a dermatologia



A relação entre a vacinação contra a febre amarela e a dermatologia

22 de janeiro de 2018 0

Ana Luisa B. Sampaio Jeunon Vargas e João Carlos Regazzi Avelleira

 

A vacina contra febre amarela é a medida mais importante para prevenção e controle da doença em territórios com circulação comprovada do vírus. Desde que bem indicada, o risco de desenvolver a forma grave da doença supera os efeitos colaterais da vacina. Assim, todo médico deve estar ciente das suas indicações e contra-indicações.

Deve ser reforçado o uso de medidas de proteção como telas e mosquiteiros, uso de repelentes (por cima do protetor solar), ar-condicionado e roupas adequadas nestas áreas. Não é recomendado usar perfumes durante caminhadas em matas silvestres (podem atrair mosquitos).

1) Quem deve tomar a vacina

Indivíduos entre 9 meses e 60 anos de idade que não possuam as contraindicações abaixo.

2) Quem não deve tomar a vacina

– Hipersensibilidade grave a ovo, gelatina, eritromicina e canamicina

– Crianças menores de 9 meses (a vacina está indicada entre 6 meses e 9 meses se situação de emergência epidemiológica ou viagem para área de risco)

– Idosos maiores de 60 anos (depende de avaliação médica)

– Grávidas e lactantes (avaliar caso a caso. Se lactante de crianças de até 6 meses de idade, suspender o aleitamento materno por 28 dias a partir da administração da vacina)

– Portadores de imunodepressão grave (por doença ou uso de droga imunossupressora)

– HIV sintomático ou CD4<200cel/mm3, neoplasia fazendo quimioterapia ou radioterapia, pós-transplantados, pacientes com doenças do timo (miastenia gravis) e doenças desmielinizantes.

– Doenças autoimunes que podem cursar com imunossupressão devem ser considerados individualmente.

3) Quais são os efeitos adversos?

– Efeitos adversos graves

– Risco de reação alérgica grave (anaflaxia): 1:131.000 doses aplicadas

– Risco de desenvolver a doença neurotrópica (YEL-AND) é de 1:150.000-250.000 doses (reação de hipersensibilidade, com encefalite, meningite, mielite, síndrome de Guillain-Barré)

– Doença viscerotrópica (YEL-AVD): risco de 1:200.000-300.000   doses. Se maiores de 60 anos 1:40.000-50.000 doses. Com      mortalidade de 60%.

Efeitos adversos mais frequentes

– Reação no local da vacina: eritema, induração, dor (4%)

– Cefaleia, febre, mialgias (4%)

4) Eficácia da vacina

Produzida no Brasil e utilizada desde 1937 a vacina apresenta eficácia superior a 90%. No Brasil, a partir de abril de 2017, a recomendação passa a seguir a OMS, que considera devidamente imunizados por toda a vida os indivíduos tomaram apenas uma dose da vacina.

5) Dose fracionada

O Ministério de Saúde iniciará a administração da dose fracionada da vacina para pessoas entre 2 e 60 anos de idade. Assim, cada frasco de 5ml será utilizado para vacinar 4 pessoas. Segundo a Bio-Manguinhos, a dose fracionada é equivalente a uma dose padrão em eficácia (produção de anticorpos). A imunização é comprovada por no mínimo 8 anos. A necessidade de revacinação de quem tomou a dose fracionada será determinada pelo Ministério da Saúde. Quem tomar a dose fracionada terá em seu cartão de vacinação esta informação. Crianças entre 9 meses e 2 anos, gestantes em situações bem específicas e viajantes internacionais continuarão tomando a dose padrão, pois a dose fracionada não é aceita para emissão do Certificado Internacional de Vacinação e Profilaxia (CIVP).

A vacina é de vírus vivo atenuado e leva a imunização em 7 dias, sendo considerado o prazo padrão de 10 dias para que o indivíduo esteja imunizado.

OBS: Após 2 a 4 semanas ainda poderá haver replicação viral. Portanto, em pacientes que necessitem o uso de drogas imunossupressoras, o retorno da medicação deve ser avaliado pela possibilidade do aumento do risco de aparecimento de doença viscerotrópica.

5) Como proceder em pacientes que usam medicação imunossupressora que necessitem vacinação?

Quando a vacinação é necessária, existe discussão de quantos dias antes da vacinação deve-se parar o medicamento.

As recomendações que orientam a interrupção da medicação sugerem períodos correspondentes de 4 a 5 meias-vidas da droga.

apesar de o metotrexate na dose comumente utilizada para tratamento das dermatoses não contraindicar vacinação para a febre amarela, pode haver menor taxa de imunização deste indivíduo.

É recomendado que o paciente somente retorne ao uso de medicamentos imunossupressores após 4 semanas da vacinação.

considerações para pacientes em uso de medicamentos imunossupressores: vide tabela.

Tabela: Medicamentos usados na dermatologia e quanto tempo antes da vacinação com vírus vivo atenuado devem ser suspensos

* Clique na imagem para melhor visualização

 

Obs: antimaláricos, isotretinoina e acitretina – não são contraindicação para vacinação.

 

Referências Bibliográficas:

1- http://www.cva.ufrj.br/informacao/vacinas/fam-v.html

2 – Oliveira ACV et al. Rev Bras Reumatol 2013;53(2):206-10.

3 – Wine-Lee et al. J Am Acad Dermatol 2013;69:1003-13.

4 – adaptado de: Calendario de Vacinação Paciente Especiais/SBIm/2015-2016.

5- wwwnc.cdc.gov  (Yellow Book/TravelersHealth chapter 8,2016.)

6 – https://www.infectologia.org.br/pg/1233/informativo-sobre-febre-amarela

7- http://portalsaude.saude.gov.br/images/pdf/2015/novembro/19/Lista-de-Municipios-ACRV-Febre-Amarela-Set-2015.pdf

8- de Wolf ACMT, van Aalst S, Ludwig IS, Bodinham CL, Lewis DJ, van der Zee R, et al. (2017) Regulatory T cell frequencies and phenotypes following anti-viral vaccination.PLoSONE 12(6): e0179942.

9- bula da vacina – FIOCRUZ / Bio-Manguinhos

10- Febre amarela – guia para profissionais de saúde. Ministerio da Saude 2017.

 





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