A Hanseníase foi um dos principais temas discutidos no 47º Dermatrop – Simpósio de Dermatologia Tropical e Doenças Negligenciadas da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), que reuniu especialistas de todo o país, em São Paulo, no último final de semana (11 e 12/04). A iniciativa viabilizou o compartilhamento dos mais recentes avanços no diagnóstico, tratamento e manejo da doença. Embora essa seja uma condição tratável, o estigma ainda envolve os pacientes, o que torna a disseminação de informações corretas e o enfrentamento do preconceito medidas essenciais.
“A Hanseníase pode acometer principalmente a pele e os nervos, mas também pode afetar alguns órgãos internos. Os primeiros sinais incluem manchas claras ou avermelhadas na pele, perda de sensibilidade em lesões, ou pele sem lesão; e dor em trajeto de nervos. Identificar esses sintomas precocemente é essencial para evitar complicações”, explicou Dr. Heitor de Sá Gonçalves, que coordenou a mesa sobre o tema e mediou as discussões.
O diagnóstico da doença é principalmente clínico e pode ser confirmado por exames como a baciloscopia ou biópsia de pele. “Hoje, temos exames mais precisos, como PCR, exames de imagem e eletroneuromiografia para os casos de Hanseníase neural pura, que ajudam a identificar a presença do bacilo e as possíveis complicações neurológicas. Um dado importante é o cuidado com a interpretação dos testes imunológicos (os testes rápidos), os quais não indicam doença, mas, se positivos, podem indicar que o indivíduo entrou em contato com o bacilo e, se negativos, não indicam ausência de doença”, acrescentou Dr. Heitor.
Em relação ao estigma, de acordo com ele, a principal ferramenta é a educação para mudar a percepção popular. “A Hanseníase tem cura e, com diagnóstico precoce, as sequelas físicas podem ser prevenidas ou minimizadas. É fundamental educar tanto a população quanto os profissionais de saúde sobre o verdadeiro impacto da doença, desfazendo mitos históricos e mostrando, por exemplo que a mesma não é tão transmissível quanto se pensava”, ressaltou o médico dermatologista.
Já Dra. Carla Andrea Avelar Pires, coordenadora do Departamento de Hanseníase da SBD, enfatizou a importância da atuação dos dermatologistas no cuidado aos pacientes.
“O dermatologista tem um papel essencial no diagnóstico e acompanhamento da doença, especialmente nos casos mais complexos. Eles são fundamentais para diferenciar a Hanseníase de outras doenças de pele e para guiar o tratamento adequado”, afirmou a médica.
Ela também destacou o tratamento gratuito oferecido pelo Sistema Único de Saúde (SUS), que combina antibióticos para eliminar o bacilo causador da doença. “A poliquimioterapia é eficaz, com duração variando entre 6 meses nos casos menos graves e 12 meses para casos mais avançados”, explicou Dra. Carla.
Além disso, a dermatologista abordou os cuidados diários que os pacientes devem ter para evitar sequelas permanentes, como perda de sensibilidade e enfraquecimento muscular. “Hidratar a pele, inspecionar pés e mãos todos os dias e usar calçados adequados são práticas essenciais. Também é importante procurar atendimento médico imediato ao notar qualquer alteração nos olhos, músculos ou pele, sinais de possível reação hansênica”, orienta ela.
O presidente da SBD, Dr. Carlos Barcaui enfatiza que a Hanseníase é uma doença curável, mas que exige o diagnóstico precoce e o tratamento adequado.
“O evento Dermatrop 2025 foi um espaço essencial para oferecer aos dermatologistas mais ferramentas para um diagnóstico eficaz e sensível, com foco na melhoria da qualidade de vida dos pacientes. Também reforçamos a necessidade de educação contínua, tanto no meio médico quanto na sociedade em geral, para garantir que as pessoas afetadas por doenças tropicais e negligenciadas não sejam mais vítimas de preconceito e, sim, recebedoras de cuidado e respeito”, conclui Dr. Barcaui.
Sobre o Dermatrop:
O Dermatrop é um evento anual que reúne especialistas da dermatologia para discutir as mais recentes descobertas, tratamentos e abordagens das doenças tropicais e infecciosas que afetam a pele. A edição de 2025 foi dedicada a promover a atualização científica e a conscientização sobre condições como a hanseníase, que ainda impacta milhares de brasileiros.